A cultura negra e a apropriação do mercado

Dos blues ao beat

O ponto de partida é o clássico Ma Rainey’s Black Bottom, de August Wilson, onde uma série de camadas — étnicas, sociais, culturais, económicas — entram em jogo para uma reflexão sobre a experiência afro-americana de há 100 anos, que tanta ressonância encontrava na década de 80, quando o texto foi escrito. Em A bunda preta da Chuvinha, esta adaptação à nossa realidade e tempo, os pormenores e os nomes podem ser outros, mas a generalidade das injustiças e das suas raízes não são diferentes. Não são os blues, é a música africana de expressão portuguesa. Não é o legado da escravatura nos EUA, é a nossa herança colonial. Mas tudo aquilo que está subjacente é idêntico: a opressão, a discriminação racial e de género, a apropriação de uma cultura negra pelo grande mercado capitalista. Pensar sobre estas questões no nosso contexto, dando voz a protagonistas com conhecimento de causa, continua a ser uma missão premente e que urge cumprir, para que possamos viver numa sociedade mais justa e consciente.
Ricardo Farinha

Ricardo Farinha é licenciado em jornalismo e redator principal da revista digital Rimas e batidas. Colabora com o Observador, a Mensagem de Lisboa, a Time Out e a publicação Comunidade Cultura e Arte, tendo também já escrito para a Blitz ou para a Bantumen, entre outros meios. É o autor do livro Hip Hop tuga – Quatro décadas de rap em Portugal e um dos curadores da exposição Filhos do meio, patente no Museu de Almada – Casa da Cidade e que retrata a história do hip hop no concelho. Desde 2018 que dá aulas na ETIC sobre História do rap. Entre outros projetos, foi um dos produtores-executivos da compilação Labanta braço (2020) e teve um programa de rádio intitulado Raptilário (2018-2021).

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No dia 23, a terceira conversa intitula-se: A cultura negra e a apropriação do mercado

E os convidados são:

Conductor é um músico incontornável dos últimos 20 anos entre Portugal e Angola. Com raízes multiculturais, foi pioneiro ao cruzar música tradicional angolana com hip hop no Conjunto Ngonguenha e tornou-se, depois, uma peça fundamental no fenómeno Buraka Som Sistema. Educador, consultor e responsável pelo estúdio Mo’Kubiko, trabalha enquanto produtor com diversos artistas, deixando a sua marca na música urbana lusófona.

Airton Caeser Monteiro trabalha em marketing das nove às cinco, escreve em part-time e é um convicto agitador social a tempo inteiro. Dedica-se a escrever sobre sociedade, cultura, desporto e o que mais lhe apetecer.

 

 

in CTA 17 Nov 2024