VIAGEM DE INVERNO

Texto de Elfriede Jelinek | encenação de Nuno Carinhas

COMPANHIA DE TEATRO DE ALMADA

Ali, Viagem de Inverno, as vinte e quatro canções de Wilhelm Müller e Franz Schubert, são som de memória – reminiscência a soar numa noite fria e selvagem de Inverno. Aqui, a música vem das palavras, da construção das frases, da sua sequência, da surpresa das paisagens alpinas – lugares de condição onde se escavam dores na memória da pátria e do Mundo. Ao longo da jornada, dividida por oito passos, há chegadas e partidas; regressos de fantasmas; corpos vergados à obrigação desportiva; casamentos de noivas vestidas de dinheiro; gente expulsa de si própria; choros de animais. Agora, perto do fim inevitável da viagem, uma voz inscreve as suas exigências no livro de reclamações da vida. (notas de encenação)

O encenador, cenógrafo e figurinista Nuno carinhas dirigiu o Teatro Nacional São João entre 2009 e 2018. Antigo aluno de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, as suas criações teatrais são marcadas por uma relação plástica com o texto.

Quando, em 2004, a Academia Sueca entregou à escritora austríaca Elfriede Jelinek o Prémio Nobel da Literatura, fê-lo distinguindo o fluxo poderoso e a musicalidade da sua escrita, feita de vozes conflituantes entre si. A autora ganhou especial visibilidade através do filme de Michael Haneke A pianista, com Isabelle Huppert no papel principal, baseado no seu romance autobiográfico homónimo sobre a relação doentia entre uma mãe e uma filha. O título evoca a obra-prima do romantismo alemão Winterreise, os lieder compostos por Franz Schubert que acompanham Jelinek desde a infância, quando aprendeu a tocá-los ao piano. Nesta sua viagem, o Inverno é uma metáfora dos infernos contemporâneos, que a autora percorre como o viajante de Schubert debaixo da tempestade. Viagem interior, revisita a sua própria biografia, caminhando dentro de si mesma (dentro do seu próprio isolamento e da estranheza que lhe provoca a nossa época) enquanto se sucedem desoladoras paisagens humanas que todos reconhecemos.


Estão a embelezar a noiva. Percebe o que isso quer dizer, estão a embelezar a noiva?, para parecer mais rica e alguém lhe pôr um letreiro com o preço? Riem-se do noivo. Ele está a comprar. Compra a noiva rica, para que ele próprio fique rico. Pois. O lucro da venda desaparece na noiva, desaparece nas jóias da noiva, debaixo das saias dela frementes de expectativa, debaixo do seu véu enfunado ao vento fresco, onde tudo desaparece, no seu ramo de flores onde entram algumas coisas que não se podem dizer com floreados; o lucro desaparece, a noiva devorou o lucro. A noiva foi vendida, e o que ela rendeu. Em baixo, fecha-se agora o stand de vendas. Tudo foi combinado. A fundação oferece o véu e põe-se depois debaixo dele.
– Parte Dois


24 JANEIRO a 23 FEVEREIRO, 2020 | SALA EXPERIMENTAL

qui a sáb às 21h00
dom às 17h00

Duração aprox.: 2h20 | M/14

Texto de Elfriede Jelinek
Encenação de Nuno Carinhas
Intérpretes Ana Cris, Flávia Gusmão e Teresa Gafeira
Tradução António Sousa Ribeiro
Cenografia e figurinos Nuno Carinhas
Desenho de luz Nuno Meira
Som Andreia Mendrico
Participação Sara Carinhas
Direcção de montagem Guilherme Frazão
Montagem Andreia Mendrico, Carlos Janeiro, João Farraia, Paulo Horta, Ivan Teixeira e Daniel Polho
Confecção de figurinos Mestra Aldina Jesus
Vídeo Cristina Antunes

Apoio Embaixada da Áustria

 


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