Teatro de Almada: a dar emoções pela 35.ª vez

O mais importante festival de teatro português, ao qual este ano o governo tirou dinheiro, que a câmara logo repôs, volta a mostrar o melhor que se faz mundo fora, como sempre de 4 a 18 de Julho e com extensões a Lisboa. As relações humanas, íntimas, dominam o cartaz

Rita Bertrand in Sábado, 04 jul 2018 notícia online

São festas e beijos, encontros e discussões, gritos e abraços, confissões, bebedeiras e até um enforcamento – tudo envolto em música original, tocada ao vivo, a sublinhar cada emoção das muitas cenas breves de A Reunificação das Duas Coreias, peça maior de Joël Pommerat sobre os altos e baixos do amor, que está de volta ao Festival de Almada numa encenação vertiginosa de Paolo Magelli, quatro anos depois de aí estrear, na versão delicada (em palco bipartido) do próprio autor. Em cena a 7 e 8 de Julho no Teatro Nacional D. Maria II, que também receberá Actriz, peça multipremiada de Pascal Rambert (de quem ainda chegará Final do Amor, dia 7, ao Teatro-Estúdio António Assunção) protagonizada por uma incansável Marina Hands, é talvez a mais imperdível proposta do programa desta 35.ª edição. É o ano em que a escritora e tradutora Yvette Centeno é homenageada e a coreógrafa Olga Roriz, que leva ao festival a sua última criação, A Meio da Noite, conduz a habitual formação O Sentido dos Mestres.

Claro que não se esgota aí. O Festival de Almada teima em mostrar o melhor que se faz no mundo, apesar do brutal corte no financiamento deste ano, por parte da DGArtes – valeu-lhe a câmara da cidade para onde, há 40 anos, Joaquim Benite, o falecido encenador que hoje dá nome ao teatro municipal, mudou o seu Grupo de Campolide (fundado em 1971). Tornou-o uma companhia de referência nacional e fez nascer em 1984 o festival de teatro que hoje, com Rodrigo Francisco na direcção, continua o mais importante do País. Este ano apresenta 24 produções (nove portuguesas e 15 estrangeiras), em 10 teatros de Almada e Lisboa (incluindo o CCB, que acolhe Fora de Campo, peça surpreendente de dança-cinema, de Michèle Noiret, no dia 13), e ainda espectáculos de rua, em Cacilhas e no Feijó, e concertos grátis (de Manel Cruz, Fernando Tordo, Rita Redshoes e outros) na Escola D. António da Costa.

É aqui que o melodrama burlesco francês Bigre, eleito pelo público o ano passado Espectáculo de Honra, abre, como sempre no dia 4, o festival. Termina (também como sempre no dia 18, porque manter as datas representou poupanças em material gráfico nos primeiros anos), com Federico García, um solo do multifacetado Pep Tosar sobre a vida e obra de Lorca, o poeta e dramaturgo espanhol que o regime de Franco silenciou. Philip Seymour HoffmanPor Exemplo, “comédia feroz” sobre o preço da fama, de Rafael Spregelburd (dia 10), A Alegria, pelo mestre das emoções poéticas Pippo Delbono (a 12), e Dr. Nest, com as marionetas humanas dos Familie Flöz (a 16), são apostas certas nesse palco. Também vale a pena passar noutro, o do Teatro Joaquim Benite, para ver Liliom, história clássica de um vagabundo em cenário de feira popular, e A Sonâmbula, a partir da ópera homónima de Bellini.

Há mais espectáculos a ter em conta. Nos portugueses, Nada de Mim, texto de Arne Lygre que Pedro Jordão encena e faz 12 sessões no Teatro da Politécnica, Carmen, solo de Natália Luíza sobre a actriz Carmen Dolores, a fazer carreira no Trindade, e Colónia Penal, a vida nas prisões segundo Genet, numa encenação de António Pires, que vai mostrar-se 11 vezes no Teatro do Bairro.

Nos estrangeiros, Estado de Sítio, no São Luiz, destaca-se pelo numeroso elenco e montagem complexa, e Arizona, uma tragédia musical americana na fronteira do México, no Fórum Romeu Correia, traz aplausos do mundo inteiro.
Se quiser ver tudo, compre o passe, que custa €75. Os bilhetes avulso vão de €8 a €18 e o programa completo está em www.ctalmada.pt.

Festival de Almada
Escola D. António da Costa e Teatros de Almada; CCB, São Luiz, TNDMII, T. Bairro, Politécnica e Trindade, Lisboa
De 4 a 18/7 • €8 a €18/sessão; passe: €75

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