‘Schweik na Segunda Guerra Mundial’ estreia sexta-feira em Almada

Um texto sobre gente normal, de rua, que tudo faz para sobreviver às condições que lhe são adversas é como o encenador Nuno Carinhas define 'Schweik na Segunda Guerra Mundial', de Brecht, que estreia sexta-feira, em Almada.

in noticias ao minuto 18 Outubro 2023 | notícia online

Um ano depois de ter encenado ‘O misantropo’, de Molière, a convite da Companhia de Teatro de Almada (CTA), o antigo diretor do Teatro Nacional de S. João regressa ao Teatro Municipal Joaquim Benite para pôr em cena um texto de Brecht que “não fala de heróis”.

“Tudo se agravou agora e estamos com o mundo bastante envolvido num conflito que tem tudo para alastrar”, sublinhou Nuno Carimbas à agência Lusa, numa alusão ao conflito que entre Israel e a Palestina.

A peça ganha ainda mais atualidade face ao crescimento da extrema-direita na Europa, admite o encenador considerando que “a tendência para a simplificação desses fenómenos” resulta de uma “ausência de memória”.

“Tudo é revertível (…). Se tivéssemos essa memória presente provavelmente não simplificávamos da maneira que simplificamos ou certos grupos não simplificavam da maneira como simplificam”, frisou.

À semelhança de ‘Os tambores na noite’, a primeira encenação de Nuno Carinhas enquanto diretor artístico do TNSJ, e “Baal”, esta encenação para o Teatro de Almada é, tal como ‘O senhor Puntila e seu criado Matti’, peças de Brecht de que Nuno Carinhas “gosta muito”.

Porque são “imperfeitas”. “Como se fossem colagens dramatúrgicas. E isso agrada-me, porque dá-me a sensação de que para além das alegorias que podem conter adaptam-se muito bem aos tempos modernos, tempos contemporâneos”, observou.

Além de que apesar da musicalidade e da boa disposição, não é uma comédia, mas uma peça que faz pensar as coisas e não ser iludido por elas, pelo que “vale bem a pena”, frisou.

Sobre a peça protagonizado por Schweik, o soldado brechtiano inspirada no protagonista de ‘O bom soldado Schweik’ do romancista checo Jaroslav Hasek, e que se tornou um símbolo do absurdo da guerra, Nuno Carinhas sublinha tratar-se de uma peça sobre “gente comum”.

“Sobre o homem da rua” e a maneira “como as pessoas tentam sobreviver numa situação que lhes é completamente adversa”, enfatizou.

Com música de Hanns Eisler, o texto também não fala de militância, mas de esperteza e de instinto de sobrevivência assentes numa “forma muito inteligente de argumentação” de Schweik.

Comerciante de cães de raça, Schweik nunca deixa cair a argumentação, marcando a sua conduta por uma dialética constante, num texto onde as dicotomias estão sempre presentes.

Schweik é de tal forma ágil e dinâmico a manobrar as dicotomias que chega ao ponto de um oficial das SS lhe confessar que não sabe por que motivo continua a ouvi-lo, ao mesmo tempo que admite estar “completamente fascinado” pelo seus argumentos.

“A crítica dentro da própria peça”, explicou o encenador, que também assina a cenografia e figurino.

Numa peça marcada pela simplicidade em cena, o encenador optou pelo despojamento, com os músicos a ocuparem parte do palco. Uma divisão marca a peça, com os factos históricos a serem projetados em pequenos vídeos a a preto e branco enquanto as cenas de rua se passam a cores.

Escrita por Brecht em 1943, quando o autor alemão estava exilado nos Estados Unidos, Schweik começa com um diálogo entre atores que personificam Hitler e Goebbels, projetado em vídeo, no qual o ditador alemão interroga o chefe das SS tentando saer o que pensam de si os “outros povos do mundo”.

A peça tem tradução de António Sousa Ribeiro, a peça tem luz de Guilherme Frazão, vídeo de cena de Cristina Antunes e voz e elocução de Luís Madureira.

A interpretar estão André Pardal, Carolina Dominguez, Cláudio da Silva, David Pereira Bastos, Diogo Bach, Duarte Grilo, Isac Graça, Ivo Alexandre, Luís Madureira, Maria Frade, Teresa Gafeira.

Inês Vaz e Pedro Santos ( acordeão), Hugo Pedrosa e João Gomes (trombone), Rodrigo Azevedo e Tomás Moital (percussão), Miguel Costa e Henrique Borges (clarinete) e ao piano Francisco Sassetti e Jeff Cohen, que assume a direção musical, completam o elenco.

A peça vai estar em cena até 19 de novembro, com sessões de quinta-feira a sábado, às 21h00, e, à quartas e ao domingo, às 16h00.

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