JOSÉ MANUEL CASTANHEIRA: UM LUGAR PARA TRANSFORMAR O TEMPO

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edição CTA Mar 2023

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José Manuel Castanheira (Castelo Branco, 1952) realizou a sua primeira cenografia em 1973, para uma criação do Grupo de Iniciação Teatral da Trafaria: Pequenos burgueses, de Máximo Gorki, com encenação de Fernanda Lapa. Neste primeiro espaço cénico por si criado, uma inquietante teia de aranha cercava os actores e crescia em direcção ao público. Foi a primeira atmosfera criada por alguém que sempre concebeu cenários a partir da metamorfose das ideias.

No Verão passado, Castanheira, homenageado pelo Festival de Almada, foi também o criador que dirigiu curso de formação O sentido dos Mestres, que acontece desde 2014. O cenógrafo chamou a essa jornada de cinco dias Um lugar para transformar o tempo. Foram cinco tardes de partilha, da revelação de episódios insólitos, de dúvidas, e de júbilo — tendo a palavra cenografia como ponto de partida. Castanheira, que é arquitecto de formação, começou por chamar a atenção para o facto de a cenografia ser uma disciplina cuja definição não é ainda consensual. E é justamente por essa razão que ele não desiste de procurar defini-la.

Cinquenta anos após a sua estreia, Castanheira já assinou mais de trezentos cenários, em mais de uma dezena de países. Já dispôs de orçamentos avultados, em teatros com grandes meios, e trabalhou também quase sem verba, para companhias pouco mais que emergentes. Mas em todas essas montagens empregou invariavelmente o mesmo espírito de verdadeiro amador e de oficina. As suas criações nascem de uma visão interior, começam por tomar forma através de desenhos (muitas vezes abstractos), e concretizam-se finalmente em sonhos transformados em matéria — por onde os actores se movem, se perdem, e se superam num jogo sempre humano.

É talvez pela prevalência dessa humanidade que quem assistiu às cinco conversas publicadas neste volume tenha aprendido a descodificar cenografias, ao longo dos séculos e civilizações, mas tenha sobretudo retido as histórias particulares de algumas pessoas. Como a de Marta, uma cubana que construía pincéis com o seu próprio cabelo; ou a de um habitante de um bairro pobre do Rio de Janeiro a quem a literatura de Italo Calvino mudou a vida; ou ainda a do sabor de uma caldeirada preparada pelos pescadores do Faial e oferecida à trupe do Teatro da Caixa, no dia seguinte a terem assistido ao seu primeiro Tchecov.

Rui Lagartinho

 

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