Peça Castro no Teatro Municipal Joaquim Benite até 12 de julho

Entre os dias 9 e 12 de julho, a peça Castro, de António Ferreira, está em cena no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada.

Cláudia Paiva Silva in Revista RUA 09 Julho 2020 | notícia online

Na continuação do Festival de Teatro de Almada, segue em cena no palco principal do Teatro Municipal Joaquim Benite, entre os dias 9 e 12 de julho, a peça Castro, de António Ferreira (século XVI), pelo Teatro Nacional de São João (Porto).

Considerada por muitos como a primeira tragédia clássica portuguesa, escrita pela inspiração em Garcia de Resende, e afastando-se do estilo de Gil Vicente, Castro é a história do mito. Claro que António Ferreira não poderia prever que cinco séculos depois, numa adaptação moderna, o cenário deixa de ser o recanto e recato dos bosques de Coimbra, passando para um apartamento com várias divisões. Contudo, algo se mantém: a tríade de personagens principais, cada uma com a sua voz e moralismos, inquietações e sentido de dever. Mais uma vez, aqui, se joga com aquilo que é a vontade do Homem e a vontade do Estado, entre o inequívoco balanço do que é pelo bem pessoal e pelo bem do coletivo. Rei, Infante e Amante. O dever, a paixão e a traição.

©TUNA TNSJ CASTRO
©TUNA TNSJ CASTRO

Dentro da história dos mitos nacionais, não deixa de ser irónico que as mais emblemáticas histórias da História recaiam sempre para a tragédia de Inês e Pedro, mais do que a sua importância no destino de um reino, a de dois seres humanos, na qual, para que um sobreviva, o outro sabe que terá de morrer, sabe qual o seu destino. E que nós, leitores e espectadores, o saibamos também, e estejamos sempre dispostos a rever e repensar a forma como uma mulher é colocada como traidora, como amante, como adúltera, e posteriormente morta, como o seu corpo é levado de uma cidade para outra de Portugal medieval, como a sua mão em decomposição, foi beijada em louvor de Rainha, por mando de um então novo-Rei que perde a razão.

Na nova adaptação, Nuno Cardoso evoca uma Inês poderosa, uma mulher muito mais adulta do que o seu companheiro e, por isso, sem dúvida, a pessoa com mais força, a Castro. Já nos vários aposentos do apartamento/casa, podemos ter todas as personagens secundárias que acabam por completar o triângulo inicial: o coro, que termina por ser o orador, a ama de Inês, os conselheiros do Rei, um complô que se vai construindo e instalando. Personagens que nunca se acabam por cruzar como seria o esperado, no espaço físico que funciona quase como cativeiro para cada uma delas.

Mais do que revisitar a História, é repensar na eternidade de uma mulher vítima de escolha e violência atroz, não só em vida, como depois de morta, em que o seu cadáver, por interpretação, foi violado do seu descanso, enquanto coroada Rainha, naquele que poderá ser um ato de amor.

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