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Obras de génios em palcos portugueses
Bob Wilson e Peter Stein mostraram os seus espetáculos.
Armando Esteves Pereira in Correio da manhã 15 Julho 2024 | notícia online
Dois grandes génios contemporâneos da encenação: Peter Stein, alemão nascido em Berlim há quase 87 anos, e Bob Wilson, americano do Texas, que em outubro completará 83 anos, apresentaram as suas obras em palcos portugueses, graças ao Festival de Almada.
‘Relative Calm’, de Bob Wilson, teve duas sessões no CCB, em Lisboa, sexta e sábado. Com coreografia de Lucinda Childs, um elenco extraordinário de bailarinos, que Bob Wilson transforma em mais uma peça de um espetáculo rigorosamente preparado. Arte pura com geometria e uma carga atómica, em que a coreografia, os textos, as fotografias fazem parte de uma unidade com uma dimensão transcendental.
Por sua vez, em Almada, Peter Stein, que agora vive em Itália, apresentou uma produção de três atos únicos de Anton Tchekhov sob o título ‘Crisi di Nervi’ (Crises de Nervos). Os três atos em italiano transmitem uma leveza de espírito, três comédias com um naipe de atores brilhantes, onde se inclui a atual mulher do encenador, Maddalena Cripa.
Os textos foram escritos na juventude pelo dramaturgo russo, mas demonstram um conhecimento da alma humana surpreendente. As personagens de Tchekhov são de um mundo de meados do século XIX da Rússia imperial czarista, mas na sua grandeza, mesquinhez e contradições serão sempre personagens intemporais.
O tempo passa rapidamente em cada ato, deixando os espectadores com uma leveza de espírito. Podiam ser apenas três atos de comédia de costumes, mas Peter Stein mostra que são uma obra sublime. Um dos méritos da produção desta companhia italiana é oferecerem ao público um Tchekhov tão leve, tão solto, mesmo quando aborda as maiores desgraças da vida: dívidas, humilhação, miséria humana.
O Festival de Almada, que já vai na 41.ª edição, continua até ao dia 18 de julho. Além de teatro em várias salas, há concertos. Vale a pena ir até àquela cidade da margem sul do Tejo para ver do que melhor se produz na cultura. E também há muito bom teatro em português.