O Insuportável Actor Bruscon

Ana Maria Ribeiro in Correio da Manhã, 05 fev 2004

Quem o conhece apenas da televisão – onde se celebrizou na pele do paciente professor do menino Tonecas – não vai reconhecer Morais e Castro no seu novo papel. Em “O Fazedor de Teatro”, encenação de Joaquim Benite que se estreia esta noite no Teatro Municipal de Almada, o popular actor veste a pele de um canastrão decadente e que tiraniza a família.

O texto é do austríaco Thomas Bernhard, autor que gosta de abordar o universo teatral (é dele o monólogo “Minetti”, que há uns anos fez brilhar Ruy de Carvalho), e que desta feita nos apresenta uma personagem megalómana, prepotente, misógina, que tiraniza mulher e filhos, que odeia os pobres e acha toda a gente medíocre (!).

Isto apesar dele próprio se encontrar no fundo do poço, obrigado a fazer digressões pela província para sobreviver.

Nada de novo, poderão alegar: a figura do velho actor em decadência já é um cliché não só teatral mas também cinematográfico. O mérito desta peça está na forma como Bernhard manipula, ao longo da acção, os nossos sentimentos em relação à sua “criatura”. O “grande actor Bruscon” inspira-nos ora riso, ora piedade ou, mais frequentemente, pura irritação.

É um velho insuportável por quem Morais e Castro diz não ter grande simpatia. “É uma das personagens mais difíceis da minha carreira, mas um homem que eu compreendo, apesar de tudo. É, no fundo, um fracassado com a mania das grandezas.”

Num cenário genial de Jean-Guy Lecat, interpretam ainda Teresa Gafeira, Francisco Costa, Maria Frade e Miguel Martins, entre outros.

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