O instante antes do precipício

Depois da passagem pelo Festival Trengo- festival de circo do Porto, "Falaise" dos Baro d´evel está, esta semana, no Centro Cultural de Belém inserido no Festival de Almada.

Catarina Ferreira in JN 14 Julho 2022 | notícia online

A companhia de circo Baro d´evel, formada pela premiada dupla franco-catalã Camille Decourtye e Blaï Mateu Trias, estreou-se em Portugal com uma sofisticada produção para oito intérpretes, um cavalo branco e um bando de pombos.

Nada nesta produção acontece por casualidade, com uma dramaturgia muito cuidada “Falaise” é a segunda parte de um díptico intitulado “Là, sur la falaise” e funciona como o seu contraponto.

A cenografia é de um grande aparato visual e serve como parque de jogos, aos acrobatas, que vão sendo engolidos e cuspidos sem interrupção, aparecendo em diferentes alturas, ou desaparecendo inesperadamente. O cenógrafo Lluc Castells construiu como cenário, uma pedreira de ardósia cortada industrialmente, como blocos de apartamentos. Numa troca permanente de espaço, a vida vai acontecendo em fachadas escorregadias, que permitem contar histórias de fugitivos: uma noiva ou uma celebridade que abrem caminhos rumo a um futuro incerto. Quando se foge para a frente para onde se vai?

Os pombos voam perigosamente como um sinal de uma ameaça latente. A dicotomia do branco e negro está vincada, quer nas paredes pintadas, nos figurinos, no cavalo, mas a obra em si desenvolve-se em áreas cinzentas, ninguém vive e ninguém morre. Esse limbo permanente de quem se se senta a olhar para o abismo e é incapaz de tomar ação.

O apoio ao movimento feito pelo coletivo Mal Pelo, resulta de forma muito eficaz. “Falaise” levanta a questão do limite, até onde somos capazes de ir? Quando caímos num vazio interior chegará alguém para nos salvar?

O tempo humano funciona como uma armadilha, como se sai daqui ? O impulso é sempre o da libertação, a tatear, a cantar e num constante exercício de tentativa-erro.

Barbara Métais-Chastanier, dramaturga escreveu no texto “Ela não sabe se sobreviveu à catástrofe ou se a precedeu”. Essa inquietação filosófica constrói um imperdível espetáculo transdisciplinar e a esperança de que Baro d´evel regresse rapidamente com outras produções.

Centro Cultural de Belém
15 julho de 2022, 21 horas
16 julho de 2022, 19 horas

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