Viagem de Inverno

O inferno somos nós e não os outros, como dizia Sartre – é o que parece sugerir a Nobel austríaca Elfriede Jelinek, segundo a crítica

Gisela Pissarra in Sábado 20 Fevereiro 2020 | notícia online

Esta Viagem de Inverno é uma peça da Nobel da Literatura austríaca Elfriede Jelinek, com tradução de António S. Ribeiro e encenação de Nuno Carinhas. É um texto em oito capítulos, inspirado pela obra homónima de Schubert, que evoca uma experiência difícil para a autora. Jelinek tinha de a tocar, em criança, perante uma mãe implacável – e o público ficou a conhecê-la no filme A Pianista.

Aqui o inverno refere-se sobretudo ao definhar das relações humanas que revela a decadência moral da sociedade, em que o Homem é carrasco do Homem, e se evidencia em episódios entre vítima e agressor – como a história de Natascha Kampusch, presa pelo pai numa cave, durante 24 anos. Trata-se de um texto duro de roer e pleno de uma apuradíssima, assustadora e brilhante ironia.

Apesar do enorme corte, que transforma um original de 5 horas em 2h30, a dramaturgia não acompanha totalmente o tempo do público de hoje, sobretudo porque são quase monólogos, sem contracena, independentemente do grande fôlego das três interpretações (Flávia Gusmão, Teresa Gafeira e Ana Cris – na foto) ou da pertinência e inteligência do texto.

Viagem de Inverno
Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada
Até 23/2 • 5ª a sáb., 21h • Dom., 17h

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