O cabaret continua no foyer

O cabaret pode ter passado de moda, mas não perdeu a eficácia. Continua a ser, como no início do século XX, um espaço livre, que toma o pulso ao mundo lá fora sem medo de ferir susceptibilidades. Hoje, tal como há cem anos, certos fenómenos parecem querer mudar a face da sociedade de que fazemos parte: a crise dos migrantes e a cavalgada da extrema-direita na Europa, a eleição de Donald Trump e a importância adquirida por entidades sem rosto, como os mercados e as agências de rating, o triunfo do egoísmo e da desonestidade e o corre-corre que faz do stress a doença do nosso tempo… O espectáculo do Teatro do Bairro fala de coisas muito sérias, por entre as gargalhadas que tanto as canções e os poemas da República de Weimar como o texto original de Luísa Costa Gomes (cheio de referências a Almada) conseguem arrancar aos espectadores. Na próxima Conversa com o público, falamos da construção de um espectáculo híbrido, cuja chave assenta na actualidade do que é dito e na relação que os actores em palco estabelecem com os espectadores, sentados a poucos metros de distância. Com que desafios se deparou a equipa criativa? E que desafios temos nós à nossa espera, enquanto cidadãos da Europa e do Mundo?

Ângela Pardelha
in CTA, 16 nov 2016