
Nós e os outros
Termina esta semana o 20º Festival Internacional de Teatro de Almada, com a representação de seis peças, entre as quais “O círculo de giz caucasiano”, de Bertolt Brecht, e “Bão Preto”, de João Mota.
A guerra, a justiça e o sentimento maternal são alguns dos tenias eleitos por Brecht, neste texto de 1944; mas está aqui também presente a possibilidade de se praticar o bem numa sociedade caracterizada pela profunda desigualdade. O enredo centra-se na odisseia da criada Cruscha que, depois de ter educado como seu o filho da mulher do governador de um pequeno Estado, recusa devolvê-lo à mãe biológica. Ao mesmo tempo, a atenção focaliza-se também sobre a inquietante presença do juiz Azdak, que se faz passar por defensor das convenções e da moral corrente. Encenada por Benno Besson, esta peça é levada a cena hoje e amanhã, às 21h30 no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém.
Pela mão de João Mota, do teatro “A Comuna”, chega-nos “Bão Preto”. Bão acredita que do nada se pode sonhar e fazer o futuro e que é preciso alimentar a criança que há em nós. A auto-estima, o gostar de nós próprios, é importante para podermos estar com os outros. Para Bão, aliás, a Revolução começa em nós próprios.
Para ver na Escola D. António da Costa, em Almada, na sexta-feira, às 18 horas.
MULHER FATAL
Nesta peça aborda-se a luta contra a máquina que conduz à destruição de si mesma. A personagem que transmite a ideia de todo-poderosa termina a receber instruções que é forçada a seguir cegamente. “Memória de uma mulher fatal”, de Augusto Sobral, fala da tragédia-cómica da história humana, em que os conflitos e os discursos inflamados escondem, na verdade, estratégias banais.
No Auditório Fernando Lopes Graça, hoje, às 18 horas.
SÃO NICOLAU
Um crítico sobe ao palco para contar uma história real… A figura do actor, que facilmente nos transporta para outros mundos, torna-se numa espécie de guia ao falar directamente ao público. A encenação está ao cuidado de Jorge Silva e Pedro Marques, do Teatro dos Aloés, e é apresentada amanhã, às 19 horas, na sala principal do Teatro Municipal de Almada.
CACHORROS
O grupo “Utero” apresenta uma obra que antes de mais é uma aprendizagem centrada na violência gratuita. Surcos subalterniza Cachorro pelo exercício de uma arte destrutiva, que lhe permite atacar o mais fraco e indefeso. Para Surcos, o mundo só tem sentido se se erguer sobre o que é forte e puro. Só através do amor por Bárbara, Cachorro irá pôr em causa o juízo e a doutrina do mais forte. Com encenação de Carlos António, vai estar em cena na sexta-feira, no Auditório Fernando Lopes Graça, às 17 horas.
in Jornal da Região de Almada, 16 jul 2003