‘Não vivemos hoje numa democracia sem democratas?’

A pergunta foi colocada por Manuel Loff na Conversa com o público do passado Sábado, quando se estabelecia a relação entre a peça que a CTA tem em cena (sobre a recta final da 'república sem republicanos' que foi Weimar) e o presente. As opiniões dividiram-se quanto à existência de um perigo real para os regimes democráticos: Fernando Sousa da Pena considera 'passageira' a vaga populista que assola o Ocidente; Manuel Loff fala de 'buracos enormes' que se abriram no funcionamento das instituições. No próximo Sábado, dia 21, será a vez de Joana Mortágua, João Couvaneiro e Pedro Mexia estarem à conversa no foyer do TMJB, às 18h.

Episódios como o desaparecimento da cruz cristã do emblema do Real Madrid ou a retirada do cartaz promocional do filme X-Men: Apocalypse, acusado de promover a violência contra as mulheres, ilustram, no entender de Fernando Sousa da Pena, uma crise de identidade sem precedentes, com origem na globalização, no individualismo, no afastamento dos valores judaico-cristãos e patrióticos, na fragilidade do sistema político e económico e, por fim, no acolhimento precipitado de migrantes. Assiste-se a uma ‘preocupante descaracterização da população’ e, acrescenta o professor e militante do CDS-PP, ‘nesta receita, só falta mesmo o cozinheiro: o demagogo que prometa a devolução da ordem’. Manuel Loff desdramatiza alguns tópicos do discurso do adversário: as migrações fazem parte da História da Humanidade e cerca de 80 % dos valores cristãos são partilhados por outras religiões, nomeadamente pelo islamismo. Para si, é mais difícil de compreender por que razão os defensores da democracia aceitam hoje a suspensão de direitos constitucionais ou a hiper-vigilância quotidiana, sem qualquer justificação judicial, e dá como exemplo as medidas tomadas ao abrigo do estado de emergência declarado pelo presidente francês na sequência dos atentados terroristas de 2015 e 2016. Finalmente, quando questionados sobre o papel do projecto europeu neste contexto, Fernando Sousa da Pena considera que este precisa de legitimidade: ‘Não há prestação de contas, não há governo europeu. O Parlamento Europeu é um órgão meramente formal’. Já para Manuel Loff, ‘a União Europeia não garante a paz’, sobretudo com as suas evidentes limitações ao nível de política externa e de defesa. ‘O bem-estar é que garante a paz.’ Seguiu-se o diálogo com a plateia, composta por cerca de três dezenas de espectadores.

Ângela Pardelha
in CTA, 16 jan 2017

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