Pedro e Inês em Almada: mais que uma história de amor

Reinar Depois de Morrer retrata, em versos líricos do Siglo de Oro espanhol, a paixão de Pedro e Inês. Em Almada a partir de 25 de outubro, José Neves e Margarida Vila-Nova dão vida ao par romântico, sob direção de Ignácio García.

Rita Bertrand in Sábado 24 Outubro 2019 | notícia online

“Os clássicos, como este, do século XVII, de Luis Vélez de Guevara, são maiores que nós e o nosso tempo. Transportam-nos para as grandes causas, para a vida. Portanto, esta é muito mais que uma história de amor. É também política, simbólica”, diz à SÁBADO Margarida Vila-Nova, notoriamente entusiasmada com o seu papel “fisicamente exigente e rigoroso em tom e ritmo, por ser em verso” em Reinar Depois de Morrer, onde será D. Inês de Castro, figura mítica, tão grandiosa que sempre teve pudor em imaginar-se a interpretá-la, que conheceu na escola, ao estudar Camões, e nos “circuitos turísticos, por Portugal”, com a mãe, na infância.

Ao lado dela, na peça em estreia a 25 de outubro no Teatro Joaquim Benite, em Almada, estará José Neves, como D. Pedro, o tal que ao ser coroado Rei, depois da morte do seu tirano pai, manda exumar o corpo da amada assassinada, para a fazer Rainha depois de morta.

“É um grande desafio”, reconhece, apesar de já ter feito outros clássicos, e sublinha: “A peça foca as grandes questões da humanidade. É antiga, mas ecoa no presente, porque fala dos valores que nos norteiam, do que procuramos e consideramos importante. Centra-se num episódio da História, mas aborda-o de um ponto de vista universal. Por isso, tem resistido ao tempo.”

O episódio, esse, surge aqui reinventado, em nome da liberdade poética e da eficácia dramática: na peça, a rival da protagonista é Dona Blanca, infanta de Navarra (na pele de Ana Cris), prometida a Pedro por conveniência política. Porém, na realidade, ela já era um caso arrumado (devido à sua fraca saúde) quando Inês chegou a Portugal, acompanhando a nova noiva do príncipe, Constanza, que viria a morrer num parto, dando assim 10 anos de felicidade ao par ilegitimamente enamorado.

Na peça de Vélez de Guevara, autor maior do Siglo de Oro, contemporâneo de Lope de Vega ou Calderón de La Barca, é esta Constanza, a quem Pedro foi fiel até à morte dela, o caso arrumado – e Blanca, a nova pretendente. Pouco importa, na verdade, para o desfecho trágico da história: por ser perigosa a ligação a Inês de Castro, irmã de nobres rebeldes, inimigos do rei castelhano, D. Afonso IV, pai de Pedro, aqui interpretado por João Lagarto, não hesita em mandar matá-la. Neste ponto, dá-se a profunda transformação da personagem de José Neves.

“É o culminar da peça”, diz, não querendo revelar até que ponto parecerá enfurecido em palco, mas confiando que será “na medida certa”, ou não estivesse sob “as unhas sábias da encenação de Ignácio García”, diretor do Festival de Teatro Clásico de Almagro, que Rodrigo Francisco, à frente da Companhia de Teatro de Almada, já havia convidado em 2017 para criar em palco a adaptação do romance de Saramago, de História do Cerco de Lisboa, de atmosfera tão medieval como este Reinar Depois de Morrer, poema dramático sobre a necessidade de os grandes estadistas sacrificarem os seus desejos pessoais, por um bem comum, maior que qualquer indivíduo.

Reinar depois de Morrer
Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada
De 25/10 a 17/11
De 5.ª a sáb., 21h, 4.ª e dom., 16h

 

mostrar mais
Back to top button