Ivo van Hove dará voz a Édouard Louis no próximo Festival de Almada

Na senda de apresentar em Portugal os nomes maiores do teatro europeu contemporâneo, o Festival de Almada leva ao Teatro Nacional D. Maria II uma combinação explosiva: a encenação de Ivo van Hove para as palavras de Édouard Louis.

Gonçalo Frota in Público, 14 Maio 2021 | notícia online

Aí está mais um nome de peso, depois do de Monica Bellucci, para abrilhantar o cartaz da 38.ª edição do Festival de Almada: de 8 a 10 de Julho, o Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, receberá a encenação de Ivo van Hove para Quem Matou o Meu Pai, a terceira obra de Édouard Louis e que sedimentou a sua entrada de rompante, em 2014, para a primeira linha da cena literária francesa.

O monólogo, interpretado por Hans Kesting, é descrito pelo encenador como “uma história arrebatadora sobre um pai que é reduzido a um destroço físico e mental aos 50, depois de anos de um trabalho duro na indústria pesada do norte de França”. Ou seja, o texto de Édouard Louis é tanto “uma furiosa acusação na direcção da elite política quanto uma declaração de amor de um filho a um pai”, atravessando ainda a forma como o autor, “enquanto jovem homossexual, foi ostracizado pela sua própria família da classe operária”.

A versão de Ivo van Hove, um dos nomes cimeiros do teatro europeu e com uma carreira de relevo também na Broadway (onde apresentou, entre outras, uma premiada encenação de Do Alto da Ponte, de Arthur Miller, e uma nova leitura para West Side Story), será a segunda abordagem ao texto de Édouard Louis a visitar Portugal em 2021, depois de Stanislas Nordey ter apresentado no Teatro Nacional São João a sua encenação e interpretação do mesmo romance. Ivo van Hove dirige desde 2001 o prestigiado Toneelgroep de Amesterdão, apresentando-se com frequência nos maiores palcos do continente, como os festivais de Avignon, Viena e Edimburgo, e dirigiu produções de salas fundamentais como a Schaubühne, o Old Vic, o Theater der Welt ou a Comédie-Française. Foi ao criador belga, há muito sediado na Holanda, que David Bowie confiou a direcção do musical Lazarus, estreado pouco antes da morte do cantor-camaleão. Por cá, van Hove apresentou India Song, de Marguerite Duras, no Festival PoNTI (Teatro Nacional São João), em 1999, e Husbands, no Centro Cultural de Belém, em 2012, a partir de John Cassavetes.​

Em poucos anos, por sua vez, Édouard Louis tornou-se não apenas um fenómeno literário em França, como também um autor especialmente procurado para ser adaptado ao teatro. A crueza da sua escrita autobiográfica, derramada de forma perturbadora e sem clemência pelas narrativas de Acabar com Eddy Bellegueule e História da Violência conquistou um estatuto raro nas letras francesas contemporâneas para um autor que, à data, não chegou ainda aos 30 anos. Publicado em Portugal pela Elsinore (Acabar com…, há muito esgotado, pertence ao catálogo da Fumo Editora), Édouard Louis desenvolveu entretanto uma relação próxima com o encenador alemão Thomas Ostermeier, com quem retrabalhou História da Violência para o palco sob o título Au Coeur de la Violence — tendo Ostermeier dirigido também, em Paris, Quem Matou o Meu Pai. Neste momento, Louis prepara a estreia de The Interrogation, peça que escreveu em parceria com outra das grandes figuras do teatro europeu, Milo Rau, e que o escritor protagonizará de 27 a 30 de Maio, em Bruxelas.

Os bilhetes para as récitas de Quem Matou o Meu Pai em Lisboa são colocados à venda esta sexta-feira.

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