Isabelle Huppert na peça “Mary Said What She Said”: Uma rainha é uma rainha é uma rainha

Depois de Orlando, baseado no livro de Virginia Woolf, este é o segundo monólogo que Isabelle Huppert interpreta sob a direção de Robert Wilson. Na peça Mary Said What She Said, a atriz francesa é Maria Stuart, rainha da Escócia. A não perder no Centro Cultural de Belém, nesta sexta e sábado, 12 e 13

Cláudia Marques Santos in Visão7, 12 Julho 2019 notícia online

Com os anos, a figura de Isabelle Huppert tem vindo a ganhar uma aura tão densa que é o mundo que se adapta a ela e não o contrário. São-lhe destinados papéis para estarem à altura do seu génio interpretativo e dramático, e não é ela a ter de se conformar a uma qualquer personagem. É assim com os filmes – basta pensar em Ela (de Paul Verhoeven, 2016) ou no mais antigo A Pianista (de Michael Haneke, 2001) – e é assim com o teatro. E uma personagem com a grandiosidade histórica e trágica de Maria Stuart, rainha da Escócia, está ao nível de uma marcante interpretação por parte da atriz francesa. Foi isso que o lendário encenador norte-americano Robert Wilson levou até Huppert com Mary Said What She Said (com texto de Darryl Pinckney), estreado em maio no Théâtre de la Ville, em Paris, e que é apresentado agora em Lisboa no contexto do 36º Festival de Almada.

Maria da Escócia foi uma rainha que esteve anos confinada às paredes de um castelo por ordem da sua prima, Isabel I, rainha de Inglaterra, até que esta decretou que fosse decapitada. Este monólogo em três atos passa-se na noite da véspera da sua morte. A interpretação de Huppert é sublime. O texto de Mary Said What She Said, uma expressão cuja musicalidade poderia apontar para o início de uma história popular, proverbial, é um misto de voz off e de falas ao vivo. Assistimos ao desespero de uma mulher a ganhar corpo de monstro através de frases repetidas a uma velocidade estonteante, até à exaustão, que exigem de Isabelle Huppert uma capacidade técnica sobre-humana, ao mesmo tempo que repete gestos maquinais, sempre graciosos; o porte de rainha está espartilhado num vestido desenhado por Jacques Reynaud. O grotesco convive com o delicado, o grito com a postura. O cenário é praticamente inexistente para dar lugar a um trabalho de luzes típico das encenações de Wilson. A música é de Ludovico Einaudi. Bravo.

Mary Said What She Said > Centro Cultural de Belém > Pç. do Império, Lisboa > T. 21 361 2400 > 12-13 jul, sex-sáb 21h > €10 a €50

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