Homenagem e reinvenção

«A Grande Imprecação Diante das Muralhas da Cidade»

Está, em cartaz, nos Recreios da Amadora, a peça, de Tankred Dorso (n. em 1925), intitulada «A Grande Imprecação Diante das Muralhas da Cidade»,obra que ficou célebre, entre nós, pouco antes do 25 de Abril, de 1974, pelo facto de, tendo sido proibida pela censura, se ter apresentado, todavia, em Lisboa, no Instituto Alemão, graças a gesto desenvolto, aberto e corajoso do seu director Meyer Clason, daí resultando uni espectáculo histórico (por motivos vários…), inesquecível, de qualidade notável, encenado por Mário barradas e tendo, conto protagonista, Fernanda Alves, num labor artístico exemplar.

Desta feita (sem a existência da censura…) a iniciativa, que foi outrora de Os Bonecreiros (com três elementos do elenco, já desaparecidos do mundo dos vivos, Vicente Galfo, José Gomes e Fernanda Alves), coube ao Teatro dos Aloés, e é, a um tempo, recordação e homenagem. Utiliza-se, a boa tradução, de então, de Mário Barradas, o encenador de hoje, José Peixoto, substitui, ao tempo, Vicente Galfo, na fase final das representações e Mário Jacques também esteve ene 1974 e está presente, também agora, nas tábuas.

Em 2004, aqui, custará entendermos o porquê da proibição de 1974, embora estejamos perante um texto denso, riquíssimo de implicações, sendo muitíssimo mais denso o seu sub-texto, interpretável por ângulos diversos… o que corresponde, ao fine e ao cabo, tanto a desafios aos encenadores que o trabalhem como ao próprio público que como mesmo dialogue.

Bom trabalho de José Peixoto (ritmos obtidos, entendimento do texto e do sub-texto e direcção de actores), produzindo um espectáculo reinventivo que não copia uma memória histórica notável (especialmente, no que tange à interpretação da protagonista). Excelente, a prestação de Elsa Valentim, com um trabalho que ficará a marcar a sua carreira, bem acolitada por Jorge Silva, Mário Jacques e Ricardo Alves (este, alternando por vezes com o encenador). Cenografia de José Carlos Barros, figurinos de Marta Cerdeiro, desenho de luz de Carlos Gonçalves, efeitos sonoros de José Pedro Caiado e música da canção de Luís Cilia.

A Amadora tem, intra-muros, um espectáculo de teatro a não perder. Não entendo, portanto, a escassez de espectadores, na sala, na noite em que estive presente.

Ontem, em Lisboa, o Teatro Ibérico estreou «Primeiro», espectáculo inspirado em obra de Israel Ilorovilz: por seu turno, a teatróloga Sebastiana Fadda, apresentará, no próximo dia 21, às 16h30, na Livraria Bettrand do Centro Cultural de Belém, o livro «A Asa e a Casa», de Teresa Rita Lopes, representando-se, a peça, no Jardim das Oliveiras, às 15 e às 17 horas. De 27 de Março a 25 Abril, o Teatro Extremo, no seu espaço almadense, apresentará «Lusitanea», criação original coordenada por Fernando Jorge Lopes.

Efemérides teatrais relativas a 18 de Março. Em 1884, nasceu a actriz de teatro musicado, Magda Arruda; em 1890, subiu à cena, no Príncipe Real, a peça «Claudina», de Abel Botelho e, na mesma noite, estreou-se, na Rua dos Condes, o actor Álvaro Cabral, na revista «Tim-Tim por Tim-Tim»; em 1910, ocorreu á estreia, no Teatro Dona Amélia, da peça de Júlio Dantas, «Santa Inquisição»; em 1916, subiu à cena, no Éden, a revista «No País do Sol», do poeta Avelino Sousa e do actor Carlos Leal; em 1918, representou-se, no Teatro Nacional Dona Maria II, o original, de Tomás Ribeiro Colaço, «A Indiana», espectáculo dedicado à escritora Maria Amélia Vaz de Carvalho.

Fernando Midões
in Noticias da Amadora, 11 mar 2004

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