Estreia de O doido e a morte no Teatro Municipal de Almada

Companhia de Teatro de Almada - Imprensa

A estreia do projecto O doido e a morte, na passada sexta-feira, foi recebido com grande agrado pelo público que lotou a Sala Principal do Teatro Municipal de Almada. A decisão de juntar, numa mesma produção, a peça O doido e a morte (1923), de Raul Brandão, e a ópera que Alexandre Delgado compôs, baseando-se neste texto teatral, foi a característica do espectáculo que mais surpreendeu os espectadores.
Visualmente, o encenador Joaquim Benite decidiu impor a mesma imagem às duas criações. Em ambas manteve, portanto, o mesmo espaço cénico, que o cenógrafo francês Jean-Guy Lecat – antigo colaborador de Peter Brook, que vem trabalhando regularmente com a Companhia de Teatro de Almada – imaginou como um sumptuoso interior Arte Nova, no qual se prolonga ilusoriamente a decoração lateral da Sala Principal do TMA, ao mesmo tempo que se acolhe o gabinete do governador-civil, decorado com autêntico mobiliário de época. Com grande elegância, os figurinos retro de Sónia Benite acentuam, numa sóbria paleta de brancos, pretos e cinzentos, o ambiente simultaneamente taciturno e quase dançante que Joaquim Benite imprimiu ao movimento dos intérpretes.
A ordem do espectáculo, na qual, à representação da peça, se segue, sem pausas, a interpretação da ópera, foi destacado por vários membros do público como escolha particularmente eficaz, na medida em que a clareza cénica e o enérgico rigor interpretativo com que se trabalha o verdadeiro achado teatral de Raul Brandão – uma visita da Morte transfigurada na inopinada e hilariante ameaça a um governador-civil, intentada pelo enlouquecido Sr. Milhões, o homem mais rico de Portugal – prepara o espectador para os acentuados contrastes melódicos e rítmicos com que Alexandre Delgado recontou esta mesma história em 1994.
No final de uma hora de vertigens músico-dramáticas – onde a inquietação expressionista de Brandão se deixa rasgar pelo riso mordaz e político de Joaquim Benite – aplausos generosos e entusiásticos receberam os actores, os cantores, o maestro Fernando Fontes e o encenador. Na estreia do TMA registou-se a presença de nomes importantes do panorama musical português, como Carlos de Pontes Leça e José Serra Formigal.

Juntam-se, em anexo, três fotos (© Da Maia Nogueira, foto 1: cenógrafo Jean-Guy Lecat; foto 2: geral, Foyer; foto 3: o encenador Joaquim Benite) do ambiente vivido no foyer do TMA, após a estreia, relembrando-se que O doido e a morte continua em cena, até dia 31 de Maio, com o seguinte calendário:

Miguel-Pedro Quadrio, 5 mai 2009

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