ESPECTROS

Helene casou com um homem com quem não foi feliz e passou a vida a esconder os desvarios do barão Alving, além de lamentar a relação que sonhou ter com o pastor Manders. Do casamento falhado resultou Osvald, um artista depressivo e doente. Há ainda Regine, filha do carpinteiro Engstrand, que é na verdade filha bastarda de Alving com a criada. Encontramos Helene já viúva, no dia em que se prepara para inaugurar um orfanato em memória do marido e é atormentada pelas memórias que não podem mais ficar escondidas: os tais “espectros”, ou fantasmas que, por mais que os tentemos ignorar, vão interferir no destino de todas as personagens.

Quando foi publicada, em 1881, a peça do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) escandalizou muitos ao expor a hipocrisia moral da sociedade e abordar (sem moralismos) temas como as uniões extra-matrimoniais, as doenças venéreas, o incesto ou a eutanásia. Helene debate-se com o peso da memória e até com os remorsos mas, ainda que tenha suportado tudo calada, não abdica da liberdade de pensar a sua própria vida e ter as suas opiniões. O medo da luz, que Helene refere e que afecta todas as pessoas, é o medo de falar abertamente. De mostrar aos outros os nossos desejos mais íntimos. E, quem diria, que mais de um século depois, esse medo seja ainda tão presente. Como disse, por ocasião da estreia, o encenador e director do Teatro Nacional São João, Nuno Cardoso: “Uma história destas tem a ver connosco e com o nosso dever (e não apenas o nosso direito) de procurar a felicidade”.

---

04 JUNHO, 2022 | SALA PRINCIPAL

---