DRAMOLETES I e II

de Thomas BERNHARD | encenação de Fernando Mora RAMOS

12 a 23 OUTUBRO, 2011 | SALA EXPERIMENTAL

DRAMOLETES 1 / COVEIRO
“Sejam turcos ou jugoslavos a essa escumalha haviam de gaseá-la. Gaseá-los a todos”
In Mês de Maria

Apalavra dramoletes, inventada por Bernhard, caracteriza uma forma, forma breve, peça curta. E transporta também um traço de humor, ligando forma dramática a omeleta, comida rápida – Bernhard na última longa entrevista, concedida a Kurt Hofmann (Em conversa com Thomas Bernhard, Assírio e Alvim, trad. de José A. Palma Caetano) fala com frequência de fazer omeletas. Estes dramoletes são um conjunto de sete “omeletas”, uma omeleta de omeletas, todas elas aliás de composição diversa além da brevidade temporal e da concisão dramática.

Dramoletes 1 / Coveiro integra três dos sete dramoletes escritos por Thomas Bernhard: Comida alemã, Mês de Maria e O Morto. No primeiro dramolete, a famíla Bernhard pesca nazis na sopa de aletria, uma sopa popular na Alemanha. No segundo, duas beatas saídas da Igreja maldizem os turcos que se aproximam do cemitério e uma delas, excitada, promete gaseá-los. No terceiro, a visão alucinada de um morto traz à tona a actividade “normal” de uma colagem de cartazes com cruzes suásticas.

Estaremos perante um teatro político? Certamente, mas na sua melhor forma, isto é, teatro não panfletário, teatro de uma identificação a cru das taras pós modernas do conservadorismo que, como mentalidade e poder, continua nesta Europa do pós-guerra a ser parte dos seus climas mentais em variados territórios e a governá-la em conúbio com o pior dos fanatismos. Política portanto no sentido mais nobre, o da revelação clara do que os meios de desinformação sempre relativizam: camuflar o que é monstruoso, bestial e tido como normal, ou pela ausência de notícia ou pelo excesso da sua exposição. Quanto mais se espectaculariza mais opacificação se alcança, quanto mais se repete a ferida em espectáculo, sensacionalismo, menos se dá perceber.
Eis a contra-estratégia dos dramoletes: fazer o retrato indesmentível do pior da história europeia como vida coetânea e normalidade aceite, o nazismo, num gesto corajosamente acusador para quem entre eles inevitavelmente vive.

DRAMOLETES 2 / DA XENOFOBIA

Os dramoletes seguem a política da concisão máxima, são formas breves e nessa medida concentram também no veneno positivo que destilam em doses homeopáticas para cumprirem a finalidade que perseguem: a denúncia do reaparecimento hoje de formas de ideologia nazi. Veneno positivo como o que se aplica no caso da mordedura da serpente, isto é, um antídoto feito a partir do próprio veneno da serpente, que, de facto protege e cria imunidade ao verdadeiro veneno. Os dramoletes seguem esta lógica do antídoto, verdadeira homeopatia dramática na sua pedagogia didáctica, e seguem-na com uma violência política justa e estética, dramática, que responde ao modo como o nazismo exerce a sua barbárie sobre tudo o que são e representam o outro e os outros. São a defesa do outro pela exposição da tragédia do regresso ao mesmo, aos tempos da bestialidade e do massacre industrial. São portanto um contra veneno contra o veneno real, este ressurgimento a que assistimos de formas ideológicas e vulgares de comportamentos nazis. Como dizia Althusser a ideologia são as ideias mais os comportamentos. Nada mais claro nestes dramoletes: a exposição dos comportamentos xenófobos mostra como certa normalidade é monstruosa. Esse é o ponto de partida destes dramoletes.
E Bernhard escreve-os optando por um teatro politicamente empenhado porque observa na sua Áustria e na próxima Baviera como as coisas parecem regredir no tempo para esse tempo de que parecíamos libertos. Dramoletes 2 são três peças e levam-nos por esses caminhos de uma Europa que, no centro dela, imaginávamos extinta. O outro, nos textos, é a presença constante e indesejada dos turcos, dos estudantes, dos “aliados” de outrora, que despertam nos nacionais verdadeiros ataques de xenofobia militante. E o mais estranho é que todos os que estão ideologicamente contaminados são gente muito integrada e religiosos praticantes, vizinhas a sair da igreja, o polícia e a esposa, as duas mulheres na estrada e os senhores ministros e respectivas esposas em vilegiatura. E não se pode exterminá-los?

FICHA ARTÍSTICA
Tradução Isabel LOPES e Fernando Mora RAMOS
Encenação Fernando Mora RAMOS
Dispositivo cénico Fernando Mora RAMOS com a colaboração de António CANELAS e Filipe LOPES
Iluminação Carina GALANTE e Fernando Mora RAMOS
Sonoplastia Carlos Alberto AUGUSTO
Figurinos Teatro da Rainha
Interpretação Isabel LOPES, Isabel CARVALHO, Elisabete PIECHO, António PARRA, Carlos BORGES, Paulo CALATRÉ e Victor SANTOS

12 a 23 OUTUBRO, 2011 | SALA EXPERIMENTAL |  M/12

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