DOM, MECENAS E ADORADORES

de Alexandre OSTROVSKI | encenação de Bernard SOBEL

05 a 07 JULHO, 2006 | SALA PRINCIPAL

Dom, Mecenas e Adoradores é uma das últimas peças de Ostrovski (data de 1882) e a sua acção situa-se no mundo do teatro: a sua heroína, Néguina, é uma actriz. Em seu torno gravitam: a outra jovem vedeta do grupo, boa camarada mas sem as exigências intelectuais, morais e artísticas de Néguina; o dramaturgo, forçosamente alcoólico e indigente; o director do teatro, verdadeiro profissional mas submetido aos poderosos da terra; o aderecista, um ancião culto, antigo proprietário do teatro que a sua paixão arruinou mas por cujos interesses ainda vela.
Michèle Raoul-Davis

CAPACIDADE DE EMPATIA
Da mesma forma que se diz ‘gostaria de encenar o Shakespeare todo’, eu gostaria de encenar todo o Ostrovski. E porque o meu encontro com o poeta Ostrovski foi essencial na minha vida, espero que possa também sê-lo para os espectadores. Ostrovski tem uma capacidade de empatia com os seres humanos que lhe permite dar-se conta do seu sofrimento e não da sua degradação. Neste teatro também há qualquer coisa de vital, que faz com que eu não tenha a impressão de estar a tratar apenas com fantasmas saídos de dentro da cabeça do autor, sem outra existência senão a literária. Estou a tratar com um homem que observa os homens no próprio meio em que ele vive e trabalha – e trata-se de um mundo brutal – sem os julgar de forma alguma, qualquer que seja a barbaridade ou a ignomínia daquilo a que assiste, e qualquer que seja o seu ponto de vista sobre um mundo onde tais coisas são possíveis. Nunca olha os outros de alto. E isto é essencial. Esta faculdade de empatia com o ser mais miserável, mais indigente, mais diferente de si, espanta-me. Quando penso em Ostrovski, penso também nesse velho poeta chinês do século XIII, Kuan Han Chi. Ambos têm essa faculdade rara de saber não julgar tudo e ter sempre um ponto de vista, de procurar sempre o que é que cada ser humano, mesmo colocado nas piores condições, poderá ter de precioso. Talvez certos países, certas épocas de extrema dureza, de extrema miséria, permitam a certos autores, certos poetas tocar no essencial, aquilo que sem eles seria indefinível. Mesmo que o teatro de Ostrovski nos mostre actos, situações e comportamentos sórdidos, miseráveis, crápulas, nunca nos recusamos a partilhar da humanidade das suas personagens, sejam elas como forem.
Bernard Sobel

ALEXANDRE OSTROVSKI
Contemporâneo de Dostoievski, Tourgueniev e Tolstoi, Alexandre Ostrovski, nascido em 1823 em Moscovo, pertence à idade de ouro da literatura russa. Desde 1847 até à sua morte, em 1886, deu ao teatro russo um repertório considerável (mais de sessenta peças).
A sua obra consagra-se principalmente à pintura do mundo dos comerciantes, uma espécie de burguesia detentora do capital, atraída pelo lucro, pelo luxo e por uma alegria grosseira. Inscreve-se na tradição de um realismo crítico, o que lhe confere uma verdadeira modernidade. Entre Gogol e Tchecov, Ostrovski é um autor sem cujo conhecimento se torna impossível compreender a história do teatro russo, designadamente os grandes avanços teóricos e estéticos a que deu origem no principio do século XX, e que influenciaram todo o teatro mundial.
Entre as suas peças mais famosas encontram-se A Tormenta (1859), considerada a sua obra-prima, e A Floresta (1871), que atraiu o reconhecimento oficial para o seu trabalho. Em 1885 torna-se director dos Teatros Imperiais de Moscovo e propõe a criação de uma espécie de Teatro Nacional Popular, acessível a todas as classes sociais. A morte impede-o de concretizar o projecto, que só em 1898 dará origem à fundação do Teatro de Arte de Moscovo.

BERNARD SOBEL
Bernard Sobel, uma das figuras mais respeitadas do teatro francês, é o criador e animador do Teatro de Gennevilliers, uma cidade da periferia de Paris, onde desenvolveu a sua acção de director e encenador durante 43 anos.
Foi em 1963, depois de fazer a sua formação no Berliner Ensemble, de Brecht, que Sobel se instalou em Gennevilliers. Começou por fundar o ‘Ensemble Théâtral de Gennevilliers’ (ETG), um grupo de jovens actores e investigadores que adoptou um estatuto amador, e cuja intenção era contribuir para o nascimento de uma forma teatral diferente das que existiam nessa época. Os primeiros espectáculos foram apresentados na sala de Grésillons, um clube de festas populares. Ao fim de alguns anos o ETG impôs-se como um laboratório de pesquisas teatrais e as necessidades económicas obrigaram-no a profissionalizar-se, mas só em 1983 obtém do Ministro Jack Lang o estatuto de Centro Dramático Nacional. Em 1986 a sala Grésillons é objecto de grandes obras de remodelação e transforma-se no Teatro de Gennevilliers. Em 43 anos Sobel montou mais de oitenta peças, divulgando em França o reportório russo e alemão, sempre de acordo com critérios de excelência. Entre os autores que apresentou em França contam-se Vichnevski, Koplov, Volokhov, Erdman, Heiner Müller, Kleist, Schiller, Lessing, Lenz, Heinrich Mann, Grabbe, e, naturalmente, Brecht. Mas é também um especialista de Moliére, de quem encenou várias obras, e o seu repertório inclui muitos outros autores clássicos e modernos, como Eurípedes, Marlowe ou Sarah Kane.
Don, Mecenas e Adoradores, considerada pelo Figaro ‘uma sublime celebração do teatro’ e pelo Le Monde ‘um melodrama magnifico’, é a última encenação de Sobel em Gennevilliers, uma vez que deixará o cargo em Dezembro, por ter atingido o limite de idade.
Em 2002 esteve presente no Festival de Almada com o espectáculo O Refém, de Paul Claudel.

colaboração na encenação de Michèle Raoul-Davis
Intérpretes Éric Caruso, Éric Castex, Laurent Charpentier, François Clavier, Isabelle Duperray, Thomas Durand, Élizabeth Mazev, Vincent Minne, Jacques Pieiller, Chloé Réjon e Gaetan Vassart
Tradução André Markowicz
Cenografia Jacqueline Bosson
Luz Jean-François Besnard
Figurinos Mina Lee
Maquilhagem Marie-Anne Hum
Assistência de encenação Mirabelle Rousseau

SALA PRINCIPAL
5 a 7 JULHO
Língua francês (legendado em portuuês)
Duração 2h30

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