Demarcy-Mota recupera “Estado de sítio” de Albert Camus para o Festival de Almada

Os atentados de Paris, em novembro de 2015, inspiraram Emmanuel Demarcy-Mota na construção da peça "Estado de Sítio", de Albert Camus, que o encenador apresenta hoje, no Teatro S. Luiz, em Lisboa, integrada no 35.º Festival de Almada

in Diário de Notícias, 14 jul 2018 notícia online

No ano em que passam 70 anos sobre a estreia absoluta desta peça do escritor francês, que em 1957 viria a ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, Emmanuel Demarcy-Mota, atual diretor do Théâtre de la Ville, em Paris, põe em cena este texto de um autor da sua “adolescência”, para “combater o medo”, como destaca o programa do Festival.

“Quando fecharam os teatros, lutei pela sua reabertura o mais rápido possível”, observou o antigo diretor da Comédie de Reims, numa alusão aos atentados ocorridos à porta de cafés, restaurantes e na discoteca parisiense Bataclan, em novembro de 2015, que causaram 130 mortos e mais de 350 feridos.

Por isso, nesta peça em que Camus situou a ação em Espanha, para denunciar a cumplicidade entre a igreja e os tiranos do mundo, o encenador de ascendência portuguesa colocou um casal contemporâneo, apaixonado, que vai ser capaz de “ultrapassar o medo e a inépcia”, resistindo e “dando o exemplo aos restantes cidadãos”.

Para assinalar a efeméride, o Théâtre de La Ville organiza, no sábado à noite, no espaço Cardin, a iniciativa “Paris-Lisbonne Stories”, uma noite festiva que terá ligação em vídeo em tempo real ao S. Luiz, em Lisboa.

O 11.º dia do 35.º Festival de Almada fica ainda marcado pela iniciativa “Melodramas de horror”, na qual o pianista Nuno Vieira de Almeida se junta à atriz Manuela Freitas, num recital de poesia alemã traduzida por Yvette Centeno — a homenageada desta edição -, João Barrento e José Ribeiro da Fonte.

Na sala Fernando Lopes-Graça do auditório municipal Romeu Correia, Manuela de Freitas lerá textos de Goethe, Gottfried August Bürger, Nikolaus Lenau, Erik Satie, Goethe e Adolf Von Pratobevera, enquanto Nuno Vieira de Almeida interpretará composições de Liszt, Satie, Wagner e Schubert. Pianista e atriz retomam o programa em nova apresentação, no domingo.

“A meio da noite”, um espetáculo dirigido por Olga Roriz sobe também hoje ao palco grande da Escola D. António da Costa, uma criação em que a coreógrafa homenageia Ingmar Bergman, no dia do centésimo aniversário de nascimento do realizador sueco.

No sábado, o público pode ainda assistir, em Lisboa, às peças “Nada de Mim” (Teatro da Politécnica), “Colónia Penal” (Teatro do Bairro) e “Carmen” (Teatro da Trindade), sendo que apenas este repete no domingo.

Um concerto de Edison Otero & The Latin Jazz Collective, em homenagem a Antonio Arnedo, e “On air”, um espetáculo de rua, a realizar no Feijó, constam das propostas alternativas do certame para hoje.

No domingo, 12.º dia do Festival, o certame propõe “Atriz”, texto e encenação do autor francês Pascal Rambert, na sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II, que repete na segunda.

Vinte e quatro produções, nove das quais portuguesas e 15 estrangeiras, 11 concertos de entrada livre e quatro espetáculos de rua preenchem a edição deste ano do Festival de Almada, a decorrer até ao próximo dia 18, em vários espaços da cidade de Almada em algumas salas de Lisboa.

Esta edição tem a programação “possível”, nas palavras do diretor do Festival e da Companhia de Teatro de Almada (CTA), organizadora do certame, num ano em que o apoio atribuído pela Direção-Geral das Artes (DGArtes), que inclui a verba para a companhia e para a produção do Festival, sofreu “um corte de 25% do total”, frisou.

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