CORPOS MODERNOS DO PALCO
Exposição do Museu Nacional do Teatro e da Dança | Curadoria de Paulo Ribeiro Baptista
Neste conjunto de fotografias da autoria de Joaquim da Silva Nogueira, que integram o acervo do Museu Nacional do Teatro e da Dança, é possível explorar diferentes dimensões de modernidade no início do século no nosso País: na mudança estética do retrato, incorporando novidades do cinema, como o grande plano ou os efeitos de luz; na transformação do espectáculo teatral em Portugal, não só em termos de repertório mas, sobretudo, na sua dimensão visual; na disseminação, por amplas franjas do público, das imagens fotográficas através dos novos magazines ilustrados, expoentes do cosmopolitismo; e na revelação de uma emancipação e empoderamento da mulher, que assume o próprio corpo como uma estética moderna e com uma dimensão performativa.
Joaquim da Silva Nogueira (1892-1959) nasceu numa família de fotógrafos e cedo ingressou num dos mais prestigiados estúdios fotográficos lisboetas: o Fotografia Brasil, de Carlos Silva. O seu olhar fez-se sentir, desde logo, no trabalho do estúdio, cujas condições renovou para o dotar dos mais avançados meios para o retrato, sobretudo em termos de iluminação e espaços amplos, características que agradavam aos actores e bailarinos dos palcos portugueses. A relação que Silva Nogueira estabeleceu com esses artistas foi muito para além da prática do retrato convencional e aproxima-se de um registo de performance, pela liberdade que assume na sua relação com os retratados. As longas séries fotográficas que realizou nas décadas de 1920 e de 1930 com Luísa Satanela, Francis Graça, Corina Freire ou Mafalda Evanduns provam, pelos limites que quase transgridem, a profunda cumplicidade que conseguiu estabelecer com cada um deles.