Concertos gratuitos na esplanada, exposições e conversas: o outro lado do Festival de Almada

De 4 a 18 de julho, o Festival de Teatro ocupa a cidade de Almada com concertos na esplanada, exposições alusivas ao 25 de Abril e conversas com artistas – tudo com entrada gratuita.

Mariana Vaz de Almeida in Almadense 19 Junho 2024 | notícia online

Um tributo a Zeca Afonso, um recital de cante alentejano com grupos de Beja e Serpa ou um espetáculo da fadista e rapper Rita Vian são alguns dos concertos propostos pela 41. ª edição do Festival de Almada que, além do teatro, traz à cidade música, conversas, exposições e até um curso de escrita. Como habitual, os concertos decorrem na esplanada da Escola D. António da Costa, mesmo ao lado do Teatro Municipal Joaquim Benite, que serve como local de todos os encontros.

De acordo com o diretor artístico da Companhia de Teatro de Almada, Rodrigo Francisco, a 41. ª edição do Festival pauta-se pela diversidade – “cada um de nós está cada vez mais fechado na sua bolha e, neste festival, queremos recuperar a tradição de estar com pessoas diferentes”, indicou durante a apresentação do programa. Desta forma se justifica o panorama musical eclético que compõe os 15 dias de concertos, ao cair da noite ou noite dentro.

Concertos de entrada livre

Para os fãs de cante alentejano, há recital com grupos de Beja e Serpa logo no primeiro dia do festival, 4 de julho, às 20h30. Já o trio “Bissau-Lisboa”, faz a ponte entre as duas paisagens com jazz e improviso à mistura às 20h de sexta-feira, dia 5 de julho.

No dia seguinte, Rita Vian atua às 24h de 6 de julho, trazendo ao palco uma nova forma de olhar para o fado através do rap e da música eletrónica. Antes, às 20h30, há ainda lugar para o concerto de Nuno Carpinteiro Trio, composto por acordeão, guitarras e percussão.

No domingo, 7 de julho, o palco da Escola D. António da Costa acolhe o “Quarteto dela”, projeto que junta guitarra, contrabaixo e bateria a uma vocalista para recriar grandes êxitos da música portuguesa, cabo-verdiana e brasileira.

Já a 8 de julho, os músicos Márcio Pinto e Catarina Anacleto prestam homenagem a Zeca Afonso, uma das grandes figuras da luta pela democracia. A música prossegue no dia 9 de julho com o Quarteto Paulo Pontes e no dia 10, quarta-feira, com o projeto multinacional “Balklavalhau”, que faz uma viagem sonora pela música balcânica.

“Curcumbia” junta músicos de Portugal, Itália e América do Sul na quinta-feira, dia 11, a partir das 20h, enquando que “Asteria” junta mulheres de Portugal, Polónia e Itália às 20h30 de 12 de julho, trazendo os rituais místicos da ancestralidade feminina ao palco da escola D. António da Costa.

No sábado, 13 de julho, há novamence dose dupla com “Seiva” a subirem ao palco às 20h. “Suzie and the boys”, recuperam o glamour e o espírito boémio dos cabarets lisboetas às 23h30.

Já “Catman & the blues doozers”, projeto de Manuel Pais com voz, guitarra e bateria, traz blues ao festival no domingo dia 14 de julho, enquanto que o quarteto de tubas “4tUbOs” se apresenta na segunda-feira, dia 15.

Com base no fado de Amália, ao qual empregam uma roupagem urbana moderna, o grupo Bairro do Grito sobe ao palco na terça-feira, dia 16 de julho, seguidos pelo duo “in.dia duoguitar”, no dia 17.

O ciclo de concertos encerra com “RioLisboa Cantam Revolução”, a partir do álbum comemorativo do 25 de Abril que reitera o valor da liberdade. Marcado para as 20h30 de 18 de julho, o espetáculo repete às 23h30.

Conversar com os artistas

“Criação, ideologia, identidade” são os temas dos “Encontros da Cerca” da presente edição do Festival, transferidos para o Convento dos Capuchos. Para o moderador Jorge Vaz de Carvalho, “nos 50 anos do 25 de Abril é essencial falar sobre a liberdade da criação, a censura do «politicamente correto» e a auto-censura que limita os artistas”, como assinalou na apresentação do programa.

A 6 de julho, a partir das 15h, a atriz Maria Rueff, o deputado Sérgio Sousa Pinto e a curadora Filipa Oliveira vão discutir legitimidade, mensagem e mudança em teatro. Segue-se novo painel com o escritor Henrique Raposo, a realizadora Raquel Freire e a tradutora e poeta Margarida Vale de Gato.

Também marca do Festival são os “Colóquios na Esplanada”, onde os espetadores podem conversar com os artistas e aprender mais sobre cada peça. Com a mediação de um convidado, fala-se sobre os espetáculos, a sua concepção e sobre as razões que levaram à necessidade de criar. Sempre Às 18h, o público pode dialogar com Olga Roriz e João Brites, diretores artísticos de “1001 Noites – Irmã Palestina”, a 8 de julho, ou conhecer António Pires, encenador da “Mãe Coragem” de Brecht, a 18 de julho. No total, são dez os colóquios, sempre acompanhados de serviço de bar.

Exposições

“25 de Abril: os dias, as pessoas e os símbolos” e “Liberdade! Liberdade! A Revolução no teatro” são as duas exposições comemorativas do dia inicial para ver durante toda a duração do Festival, na escola D. António da Costa e no foyer do Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB). A primeira recupera jornais, revistas, panfletos, autocolantes e fotografias simbólicos dos primeiros dias da Revolução. A segunda celebra a liberdade crescente do teatro português ao longo da década de 70, paralela à democratização da sociedade.

No Convento dos Capuchos, os falcões de Ilda David habitam a sala de exposições trilhando o sussurro das árvores e criando um universo de metamorfoses e mitos. “A Barraca”, companhia de teatro que nasceu com o 25 de Abril, é homenageada através de uma instalação de José Manuel Castanheira, patente no átrio da escola D. António da Costa. Para Maria do Céu Guerra, é uma honra receber esta homenagem “a uma companhia onde a estética está a par da ética e onde se faz teatro de afetividade”. “Um sonho de Federico García Lorca em Lisboa” pode ser vista durante o Festival, de 4 a 18 de julho; já a exposição “Quando soubermos ouvir as árvores”, de Ilda David, vai estar no Convento dos Capuchos até 14 de setembro.

Curso de formação: escrita para teatro

“Ler muito, ver espetáculos, viver mais” é o mote para o curso de formação “O Sentido dos Mestres” de 2024, lecionado pelo romancista Rui Cardoso Martins. Através da partilha de instrumentos práticos e métodos de trabalho, os participantes vão poder encontrar a sua voz na escrita de teatro, aprendendo com os mestres para os combater. Com um total de 15 horas distribuídas por 5 dias, o curso tem o valor de 10 euros (assinantes do Festival) ou 20 euros (não-assinantes).

15 dias de espetáculos sem parar

“A Tempestade”, recriação de Shakespeare com 150 marionetas, ou “Além da Dor”, sobre a precariedade e a fragilidade dos laços laborais e sociais potenciada pelo capitalismo, são duas das 19 peças para ver este ano, em seis palcos de Almada e um palco de Lisboa. Cabaret francês, Brecht, Tiago Rodrigues e o regresso da libanesa Hanane Hajj Ali marcam também uma edição pautada pela diversidade.

Com a primeira edição em 1984, no Beco dos Tanoeiros, o Festival de Almada tem vindo a crescer em dimensão e qualidade, e é hoje considerado um dos melhores Festivais de Teatro da Europa, como pode ler-se na reportagem do ALMADENSE.

Os concertos e colóquios são de entrada gratuita, bem como as exposições. Já as peças podem ser vistas através da assinatura do Festival de Almada ou de bilhetes individuais, à venda na bilheteira do TMJB.

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