Companhia de Teatro de Almada – Programação para 2022

Domingos Lobo in Avante 20 Janeiro 2022

Mesmo em tempos adversos, tempo de pandemia e de limitações sociais, o Teatro, as artes em geral e os seus criadores, estiveram sempre em actividade, mesmo quando as portas dos museus, das exposições, dos cinemas e teatros se fecharam ao público. Os criadores não pararam, novos livros surgiram nos catálogos das editoras, os filmes continuaram a produzir-se, os teatro encenaram novos espectáculos, reinventaram-se processos e novos mecanismos para chegar ao público. A imaginação não se confinou e, em muitos casos, os autores reflectiram lucidamente sobre o tempo que vivemos e as consequências futuras no nosso tecido social e no comportamento psicológico das populações que enfrentaram/enfrentam a dureza e o medo destes dias.

Rodrigo Francisco, director da Companhia de Teatro de Almada, no magnífico programa de apresentação das funções performativas para o presente ano, refere-se aos últimos longos meses como sendo «marcados por dois períodos em que tivemos de encerrar o teatro ao público. Foi para todos nós – para os que fazem teatro e para os espectadores – um tempo incerto, durante o qual tivemos de tomar medidas sem precedentes. Quando anunciamos uma programação anual criamos uma expectativa, e assumimos uma relação de confiança entre quem apresenta e quem assiste aos espectáculos. Foi justamente esse laço estabelecido com o nosso público que procurámos proteger nas duas ocasiões em que alterámos o compromisso assumido.»

O compromisso da CTA para o ano em curso é exigente e ambicioso. Logo a abrir a temporada, já a 28 de Janeiro, a Companhia apresenta a tragédia de Eurípedes, Hipólito, na qual a grande actriz Teresa Gafeira regressa a uma das suas mais intensas personagens: Fedra. A encenação é de um mestre na arte de dar a ver os grandes clássicos – Rogério de Carvalho.

Em Março será a vez do texto Além da Dor, do britânico Alexander Zeldin, ser apresentado na Sala Experimental. Texto assente na denúncia dos aspectos perversos que envolvem a usura de certo patronato e as condições precárias impostas aos trabalhadores, em Inglaterra. O próprio autor se refere ao seu texto como de análise «a todo o sistema capitalista [que] se baseia na insegurança da maioria das pessoas». A encenação é de Rodrigo Francisco.

Em Abril sobe à cena, na sala principal do Teatro Municipal Joaquim Benite, a peça de Martim Crimp, O Misantropo, baseada no texto homónimo de Moliére. A encenação está a cargo de Nuno Carinhas, um dos habituais encenadores da CTA.

A quarta produção da CTA é um dos textos clássicos de William Shakespeare, Noite de Reis que estará em cena em Outubro, com encenação do alemão Peter Kleinert, que foi dramaturgo e encenador em vários teatros da antiga RDA.

Em Outubro e Novembro estará em cena a peça do dramaturgo e cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, O Medo Devora a Alma. Fassbinder foi, entre os anos 1970/80 um dos mais prestigiados realizadores do cinema europeu, com filmes como As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, O Direito do Mais Forte à Liberdade e O Casamento de Maria Braun, nos quais reflectia, mesmo em ruptura com alguns códigos de género, sobre a Alemanha do pós-guerra, a intolerância e a discriminação. A encenação é de Rodrigo Francisco.

A este vasto leque de textos incontornáveis do teatro clássico e contemporâneo – do qual está ausente, o que é pena, a dramaturgia portuguesa -, junta-se ainda, pela mão de Teresa Gafeira, duas peças para os espectadores mais jovens: Ando a Sonhar com Beethoven e O vento nos salgueiros.

Bom teatro para ver ao longo deste ano, por uma das nossas mais relevantes e inovadoras companhias de Teatro.

Nestes dois anos, na Companhia de Teatro de Almada, a imaginação não se confinou

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