Colóquio: As confissões verdadeiras de um terrorista albino

No sábado, 13 de Fevereiro, decorreu no foyer do TMJB mais uma Conversa com o público, desta vez sobre o espectáculo As confissões verdadeiras de um terrorista albino

O encenador Rogério de Carvalho e o actor Daniel Martinho foram os intervenientes nesta conversa moderada por Ângela Pardelha. Os convidados reflectiram sobre aquele que foi considerado o Melhor Espectáculo de 2014 pelo jornal O Público, um monólogo a sete vozes, em que se revisita uma África do Sul dilacerada pelo apartheid, e pela repressão política e racial. As confissões verdadeiras de um terrorista albino, de Breyten Breytenbach, surge no âmbito de um ciclo de textos inéditos dedicado a autores africanos pelo Teatro Griot, fundado em 2009, e maioritariamente constituído por actores afro-descendentes. Daniel Martinho sublinhou que a origem deste teatro adveio do racismo que ainda perdura no panorama artístico nacional, e da falta de papéis para actores de cor. Adiantou ainda que os membros integrantes do Teatro Griot são maioritariamente negros mas não só, e que jamais se escolhem papéis em função da cor. Como africanos somos igualmente capazes de fazer parte desta nobre arte que é o teatro. Selecionamos textos que abordam questões universais, e que incidem também no tema da diferença”, defendeu. Rogério de Carlvalho também abordou o tema, ainda actual, da discriminação nas artes: Se uma pessoa é boa no seu trabalho, a raça não deveria existir, a não ser que por algum motivo se procure activamente essa diferença. No meu caso, eu queria ser actor mas não me deixaram e acabei por ser empurrado para a encenação .

Em relação à forma como abordou este texto, o encenador salientou que se tratou de um processo bastante complicado, já que considera que cada espectáculo que faz é uma reflexão sobre a natureza teatral, e que o seu trabalho reflecte a acumulação de peças que já encenou e de outras ainda por vir: “Estou presentemente a encenar o Frei Luís de Sousa, e essa influência recai sobre este espectáculo – já sou uma pessoa diferente. Apesar d’As confissões terem estreado em 2014, o espectáculo envelhece e nunca está feito; existem sempre novos elementos. A peça pode ser restreada nas pessoas que nela participam; há sempre a tendência de criar algo novo e de fugir ao comodismo” . Rogério de Carvalho aludiu ainda à dificuldade que teve em adaptar para teatro um texto com cerca de 800 páginas, referindo como sintetizou o material para não mais de 80 páginas, e como o espectáculo acaba por ser “um conjunto de fragmentos que funcionam”.

Liliana Monteiro
in CTA, 13 fev 2016

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