Colónia Penal: a vida nas prisões segundo Genet, Botelho e Pires

O Teatro do Bairro recebe Colónia Penal, a inacabada peça de Jean Genet em que o dramaturgo dialoga com o seu "eu" interior. A estreia é na quinta-feira, 5 de Julho, numa encenação de António Pires em que criminosos de carne e osso são vigiados pelas suas vítimas, filmadas por João Botelho

Pedro Henrique Miranda e Rita Bertrand, in Sábado05 jul 2018 notícia online

As peças estão lá todas, embora não seja imediatamente óbvio de que forma se encaixam umas nas outras. E é justamente quando julgamos tê-las mais ou menos alinhavadas numa história – a de um bando de criminosos que cumpre pena numa prisão, sob o jugo de superiores despóticos – que o panorama se rearranja para revelar o seu cariz autobiográfico. Talvez seja este o maior apelo de Colónia Penal, a obra incompleta em que o dramaturgo francês Jean Genet trabalhou durante 15 anos, encenada por António Pires para o Teatro do Bairro, em Lisboa, no âmbito do Festival de Almada.

O facto de nunca ter sido publicada pelo autor pode explicar a fragilidade narrativa deste conjunto de cenas soltas, agora ordenadas, segundo o encenador português, “para facilitar a compreensão e reforçar o sentido” de um texto em que poesia, prosa e cinema (este último cortesia de João Botelho, que assina os excertos em vídeo que acrescentam comentários das vítimas à acção) se conjugam, numa reprodução da experiência real do próprio Jean Genet atrás das grades.

Trata-se de uma exploração de si mesmo, em suma, que em cena se expressa num deserto isolado do mundo exterior, no qual as personagens assumem as características que permearam a vida de Genet: criminalidade, vadiagem e homossexualidade são temas recorrentes. Daí que os prisioneiros surjam em constantes confrontos, pano de fundo para a ambiguidade sexual, a hostilidade ou a moralidade, enquadrando frequentemente a vida como penitência e a morte, simbolizada por uma imponente guilhotina montada em cena pelos próprios presos, como libertação.

Esta oposição constante manifesta-se ainda na vigia constante das suas vítimas mortais (a comentar, em filme, as atitudes dos vivos) e dos narradores Sol e Lua, que reiteram, para António Pires, “a dinâmica luz/escuridão, essencial a toda a peça” e que espelha o que de melhor e pior existe em nós.

Colónia Penal 
Teatro do Bairro, Lisboa
De 5 a 22/7 • Até 17/7: 4.ª a sáb., 21h30; 2.ª e 3.ª, 18h • 18 a 22/7: 4.ª a sáb., 21h30; dom., 17h
€5 a €12

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