Carlos Avilez, uma vida dedicada ao teatro. “Quero ter uma certa rebeldia até ao fim”

Soma 64 anos de carreira, 80 de idade. O encenador Carlos Avilez é o homenageado da edição 36 do Festival de Teatro de Almada

Maria João Costa in SAPO, 17 Junho 2019 notícia online

Aos 80 anos, Carlos Avilez diz que quer “ter uma certa rebeldia até ao fim”. O encenador, diretor do Teatro Experimental de Cascais é este ano o grande homenageado do Festival de Teatro de Almada. Aos 64 anos, continua a gostar de formar atores. Carlos Avilez que, em Almada vai apresentar a peça O Sonho que junta 89 jovens atores e Ruy de Carvalho, fala da arte do palco com “entrega”, uma “opção de vida” e uma “grande paixão”. A Renascença sentou-se com Carlos Avilez na Casa da Cerca em Almada, a olhar Lisboa na outra margem para uma breve conversa sobre a homenagem de que será agora alvo.

Com 64 anos de carreira dedicada ao teatro como sente esta homenagem que o Festival de Teatro de Almada lhe faz nesta edição 36?
Fiquei muito sensibilizado por muitas razões. Ser homenageado pelo Festival de Teatro de Almada é uma honra muito grande, não só pelo festival em si, mas também pelas pessoas que estão ligadas a ele desde o Joaquim Benite ao Rodrigo Francisco, passando pela Teresa Gafeira. Perante este universo teatral tão forte eu ser homenageado é muito gratificante, é muito importante e é muito comovente para mim.

É uma opção de vida, uma paixão muito grande e uma grande entrega. É acreditar que o teatro é algo que não se explica, que se sente e se vive cada vez mais. Ao fim deste tempo, destes 64 anos de profissão eu continuo mesmo apaixonado pela minha profissão e tento fazer o meu melhor.

Nesses 64 anos foi fazendo muitos espetáculos, conhecendo muitos atores e dando aos palcos muitos novos atores. Como vê o estado do teatro agora em Portugal?
Eu acho que o teatro está numa fase muito positiva, porque vejo o teatro cheio de público, vejo muita gente nova. Como sabe, sou diretor de uma escola de teatro e cada vez há mais gente a concorrer, cada vez há mais qualidade e mais força na profissão. Acho que recentemente tivemos bem a sensação do que é uma classe e a sua força. Estou otimista em relação à profissão.

No Festival de Teatro de Almada apresenta, de 5 a 18 de julho, a peça “O Sonho”, onde junta a jovialidade de um grupo de jovens atores e a sabedoria de Ruy de Carvalho.
“O Sonho” é uma peça sobre a espécie humana e é uma grande homenagem que faço aos meus colegas, aos que já fizeram esta peça e aos meus alunos. Tenho 89 alunos em cena, 35 dos quais são finalistas e tenho os atores residentes e tenho o senhor Ruy de Carvalho.

Carlos Avilez pensa na reforma? Vai continuar a trabalhar até que o corpo lhe permita?
Sim até que a voz me doa (risos). Até que eu sentir que estou em condições de trabalhar. Não me quero arrastar pelos palcos. Quando sentir que estou a perder qualidade, saio. Tenho que dar essa imagem. Se eu ao fim de oito ou nove anos da minha vida profissional a convite da senhora Amélia Rey Colaço achei que a minha profissão não era ser ator, era ser encenador… na altura foi difícil. Quando deixar de trabalhar também não vai ser fácil, mas quero deixar o trabalho feito e não estragar. Quero ter uma certa rebeldia, a mesma com que comecei. Espero tê-la até ao fim. Estas homenagens ao fim deste tempo todo, e eu fui sempre muito polémico, é agradável e é um motivo para os mais jovens serem também rebeldes e procurarem novas formas.

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