“As Artimanhas de Scapin”, de Molière, em Almada: De aldrabice em aldrabice
A nova encenação de João Mota, "As Artimanhas de Scapin", revela-se neste fim de semana no Festival de Almada. "Esta peça é uma crítica muito grande, muito grande, a esta sociedade toda”, diz o encenador
Cláudia Marques Santos in Visão 16 Julho 2020 | notícia online
“Esta peça é uma crítica muito grande, muito grande, a esta sociedade toda”, defende João Mota. “Essa gente toda que vive do dinheiro para o dinheiro, do jogo para o jogo, da aldradice para a aldrabice, só para ganhar… Essa coisa do poder. Por isso é que digo que hoje não há ideologias, há uma: a ideologia capitalista.” E o amor é, para o encenador e diretor artístico do Teatro da Comuna, a força transcendental por excelência com capacidade combativa. “Há uma cena de amor que é linda. Faz lembrar Don Juan, O Misantropo… De vez em quando vem essa poesia, esse lado romântico, que Molière tem em quase todas as peças.”
O espetáculo começa ao som de Pavarotti a cantar Santa Lucia, porque a história se passa em Nápoles. Octávio e Leandro são filhos de dois mercadores abastados, Argante e Gerôncio. Tiveram o desaforo de se apaixonarem por mulheres de condição social inferior à sua e vão pedir ajuda a Scapin, criado com uma vida feita de artimanhas. “Nós vivemos numa altura em que, sem amor, é impossível. O amor é que nos dá alegria. E a alegria e o amor dão-nos uma coisa importantíssima: a liberdade”, explica João Mota. “É esse amor que nos transcende. Ou somos exemplos ou não há democracia, é uma mentira.” Outra relação de amor, de mestre e aprendiz, é a de Scapin com outro servo, Silvestre. “É uma coisa de que gosto muito, da psicopedagogia e expressões artísticas. Peguei nesse lado, que Molière não explora: Silvestre vai ser outro Scapin.”
As Artimanhas de Scapin > Fórum Municipal Romeu Correia > Pç. da Liberdade, Almada > T. 21 273 9360 > 16-19 jul, qui-sex 21h30, sáb 18h, dom 15h, 21h30 > €10