Arranca o Festival de Almada, este ano com Isabelle Huppert no CCB

Monólogo da atriz francesa, encenado por Robert Wilson, domina as atenções, mas há muito mais para ver de 4 a 18 de julho, incluindo Maria de Medeiros

in Sábado, 4 Julho 2019 notícia online

Rodrigo Francisco, diretor da Companhia de Teatro de Almada e do respetivo festival – criações do falecido encenador Joaquim Benite que são referência da cultura em Portugal -, defende, no seu jeito metafórico, “uma progamação apoiada na diversidade”, definindo-a como “uma lente caleidoscópica para olhar o mundo”. Sabe, contudo, que isso não chega para alimentar um festival da dimensão deste, que é o mais importante do País e apresenta, na 36ª edição, como sempre de 4 a 18 de julho, 38 espetáculos em 15 espaços – 11 em Almada, três em Lisboa e um em Cascais.

“Essencial” – diz – é proporcionar, em cada um, doses generosas “de espanto e poesia”. E é de espanto e poesia que se faz a obra de Robert Wilson, o americano de visão estilizada e nada convencional, que pôs Tom Waits a compor para o palco nos anos 90, em The Black Rider e Alice(um deslumbramento que o CCB viu em 1994, quando Lisboa foi Capital Europeia da Cultura).

É dele a encenação de Mary Disse o Que Disse, peça de Darryl Pinckney sobre as últimas horas de vida de Mary Stuart, a Rainha da Escócia que Isabel I mandou matar em 1587, que nos chega num solo portentoso (em francês, com legendas) de Isabelle Huppert – atriz que Wilson já dirigiu em Orlando, a partir de Virginia Woolf, e Quarteto, de Heiner Müller –, com música original de Ludovico Einaudi, a 12 e 13 de julho, às 21h, no CCB.

É o ponto alto mas não o único de interesse do festival. Ao encenador Rogério de Carvalho cabe a tarefa de trazer aos palcos nacionais, pela primeira vez, Se Isto É um Homem, de Primo Levi, de quem se celebra em 2019 o centenário do nascimento (com direito a Encontro na Casa da Cerca, para debater a sua obra, no dia 13, às 10h).

Interpretada por Cláudio da Silva, que foi o Fernão Mendes Pinto da Peregrinação de João Botelho, a peça é um testemunho na primeira pessoa de um sobrevivente do holocausto, que expõe de forma crua as atrocidades do nazismo. Terá apresentações de 5 a 18 de julho, no almadense Teatro Joaquim Benite, em cenário concebido pelos arquitetos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira.

Maria de Medeiros também vem ao festival, na companhia da atriz veterana Bulle Ogier, com Um Amor Impossível, adaptação de um romance multipremiado de Christine Angot sobre a relação tumultuosa de uma mãe e de uma filha, ensombrada pelo incesto paterno. É também no Teatro Joaquim Benite, a 7 e novamente a 8 julho, a mesma data em que o Palco Grande da Escola D. António da Costa recebe Rafael Alvarez, conhecido como “El Brujo” e habitué do festival, numa abordagem catártica da Antiguidade Clássica, a misturar humor e música, com Ésquilo, Nascimento e Morte da Tragédia.

É igualmente na Escola que se apresentam outros três espetáculos a não perder: no dia 6, Franito, uma revisitação burlesca do flamenco, pelo Théatre de Nîmes; a 10, Uma Luta de Galos, com dois homens seminus à bulha, entre a acrobacia e a dança, dos argentinos T4; e Dr. Nest, a mágica farsa com marionetas de dimensão humana dos alemães Familie Flöz (cujo diretor artístico dará um curso no Fórum Romeu Correia, de 8 a 12), no dia 14 – como Espetáculo de Honra, por ter sido o mais votado pelo público, o ano passado.

O Sonho, com Ruy de Carvalho e um elenco de jovens, dirigidos por Carlos Avilez (a personalidade homenageada deste ano) no Teatro Mirita Casimiro, no Monte Estoril, Cascais, e duas peças a apresentar no Teatro D. Maria II, em Lisboa – Guerra e Terebintina, do belga Jan Lauwers, pelo arrojo, nos dias 6 e 7, e Macbettu, revisitação à moda da Sardenha do trágico Macbeth de Shakespeare, a 10 e 11 – são outras apostas seguras do cartaz do festival, ao qual regressa ainda a norueguesa Juni Dhar, que depois da sua nada convencional Hedda Gabler na Casa da Cerca ter sido eleita Espetáculo de Honra em 2016, encarna agora Joana d’Arc, de 15 a 17 de julho, num lugar ligado à história do teatro português: a Capela do Seminário de São Paulo, em Almada, onde culmina a ação de Frei Luís de Sousa, o texto de Almeida Garrett que é considerado o mais perfeito da dramaturgia nacional do Romantismo.

mostrar mais
Back to top button