Almada | Reinar Depois de Morrer

Na Sala Principal do Teatro Municipal Joaquim Benite, de 20 de Janeiro a 12 de Fevereiro. De Quintas a Sábados às 21h e, Quartas e Domingos às 16h.

Sofia Quintas in Almada online 19 Janeiro 2023

A Companhia de Teatro de Almada volta a ter em cena a mais bela e trágica história de amor portuguesa: o mito de D. Pedro e Inês de Castro.

Reinar depois de morrer, da autoria de Luis Vélez de Guevara e escrita em 1635, é uma peça do século de ouro espanhol, com temática portuguesa. Na sua abordagem a esta tragédia ibérica, o autor inspirou-se e combinou ambas as línguas e sensibilidades, a saudade portuguesa e a crueza castelhana, criando um milagre teatral com uma força imensa, que culmina na cena necrófaga e aterradora do cadáver reinante, metáfora barroca e símbolo de uma justiça tardia e estéril.

Esta é uma reposição, com um novo elenco, de uma criação estreada em 2019, que resulta de uma co-produção com a Compañia Nacional de Teatro Clásico. Reinar depois de morrer integrou a Mostra Espanha desse ano e subiu à cena no ano seguinte, em Madrid, com um elenco espanhol. Às récitas em Almada e no Porto, no Teatro Nacional São João, assistiram mais de 5.000 espectadores. Este espectáculo valeu a José Manuel Castanheira o Prémio Autores para Melhor Cenografia, e a Ignacio García o Prémio de Melhor Encenação, atribuído pela Associação de Encenadores de Espanha.

A imprensa portuguesa destacou, na altura, o “imaginativo e eficaz cenário em half pipe de Castanheira” (Rui Monteiro, in Público), bem como o trabalho dos intérpretes: “os actores surgem numa distribuição exemplar e bem dirigidos, com conhecimento da forma de elocução do teatro barroco, em verso sem cesuras, respirando nos tempos certos, com manifesto à vontade com a linguagem, e com o movimento evidenciando os matizes das personagens” (Helena Simões, in Jornal de Letras). Em Espanha, o La Razón referiu que “o espectáculo se desenrola com eficácia e muita beleza”, ao passo que o El País sublinhou “o expressivo artefacto cenográfico de Castanheira, que evoca os límpidos espaços teatrais de Adolphe Appia”.

O dramaturgo espanhol Luis Vélez de Guevara (1579-1644) terá composto mais de 400 peças. Este texto, de 1635, é considerado um dos seus melhores trabalhos. Com tonalidades intensamente líricas, põe em cena a mais trágica e lendária história de amor de Portugal: a de D. Pedro e D. Inês de Castro, à qual se opôs a razão de Estado. Publicada em Portugal pela primeira vez em 1652, no âmbito de uma colecção em castelhano intitulada Comedias de los mejores y más insignes poetas de España, a peça evoca uma história de contornos inéditos e irrepetidos. O espectáculo centra-se nos dilemas e sofrimentos interiores e nos comportamentos que as quatro personagens principais revelam, convocando o público a pensar sobre o tema sempiterno que é o da supremacia das conveniências do Estado sobre o indivíduo, sempre mais frágil, que as questiona.

O encenador Ignacio García é programador do Festival Dramafest (dedicado à dramaturgia contemporânea, que decorre na Cidade do México) e director do Festival Internacional de Teatro Clássico de Almagro. Grande divulgador do reportório do século de ouro espanhol, divide-se entre os textos clássicos e os contemporâneos. Para a Companhia de Teatro de Almada encenou também, em 2017, História do Cerco de Lisboa, de José Saramago, e Nem come nem deixa comer, uma versão de O cão do hortelão, de Lope de Vega.

©DR / Segundo o mito D. inês de Castro foi coroada rainha de Portugal depois de morta

Ficha Técnica:

Co-produção: Companhia de Teatro de Almada e Compañia Nacional de Teatro Clásico
Interpretação: Ana Cris, David Pereira Bastos, Erica Rodrigues, João Cabral, João Farraia, Leonor Alecrim, Maria Frade, Pedro Walter
Texto: Luis Vélez de Guevara
Encenação: Ignacio García
Tradução: Nuno Júdice
Adaptação: José Gabriel Antuñano
Cenografia: José Manuel Castanheira
Figurinos: Ana Paula Rocha
Desenho de luz: Guilherme Frazão
Voz e elocução: Luís Madureira
Duração: 90 minutos
Idade: M/12

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Conversas com o público – “Reinar depois de morrer”

O mais extremo amor da nossa História, tão tresloucado que levou o rei D. Pedro a coroar Inês de Castro depois de morta, paira como tema e obsessão sobre a literatura ibérica dos últimos séculos. De Os Lusíadas aos poetas contemporâneos, não faltam exemplos de revisitações desta tragédia. Em paralelo com a reposição de um desses exemplos, a peça de Luis Vélez de Guevara (autor espanhol do séc. XVII), tentaremos pensar o drama da paixão funesta com o olhar do nosso tempo, examinaremos os ecos e legados da tradição literária do século de ouro (Siglo de Oro) e exploraremos a coragem, ou desassombro, de quem se atreve a escrever sobre o amor na era do distanciamento irónico e do cinismo.

Pedro & Inês: ecos literários
Moderação de José Mário Silva
Nuno Júdice (poeta, ensaísta, tradutor)
Isabel Almeida (professora universitária)
Foyer do TMJB 21 de Janeiro às 18h

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