A ÚLTIMA NOITE DE JÁCOME CASANOVA

Texto de STEFANO MASSINI | encenação de Mario Mattia GIORGETTI

21 a 24 OUTUBRO, 2010 | SALA EXPERIMENTAL

Ojovem dramaturgo Stefano Massini penetrou no universo de Casanova e traçou elementos de um percurso de vida que o «seu Casanova» quer dirigir à memória dos homens, um percurso composto por trechos de existência na última fase da sua vida, ou seja, aquela etapa final em que a «velhice» procura fazer um balanço, procura rever-se e recompor-se na sua identidade total de ser humano.

NOTAS DE ENCENAÇÃO
Aquilo que Giacomo Casanova devia ter feito, fê-lo o dramaturgo Stefano Massini aos 28 anos. Ou seja: colocou-se dentro do universo de Giacomo Casanova e descobriu elementos de um percurso de vida que o «seu Casanova» quer consignar à memória dos homens, um percurso composto por trechos de existência na última fase da sua vida, ou seja, aquela etapa final em que a “velhice” procura fazer um balanço, procura rever-se e recompor-se na sua identidade total de ser humano. Este monólogo, escrito em verso, apresenta-nos um Casanova mais Homem do que Mito, que quer recompor-se nos aspectos mais íntimos, para permanecer no tempo, sobreviver e ficar na memória.

Como encenar um texto que tem um valor metafórico preciso tanto na estrutura da linguagem, como nas imagens que o acompanham, a não ser recorrendo a um projecto cénico igualmente metafórico que tivesse os mesmos valores das palavras de Massini, palavras ora emotivas, ora densas como pedras, ora evocativas? Também os outros elementos do espectáculo devem estar em sintonia com essas palavras, com as visões, com a dimensão poética. E foi por isso que eu quis subtrair a representação a um realismo simples, para transportá-la para espaços dialécticos: espaços da memória e espaços do real. Este Casanova oscila entre o presente e o passado, está «dentro» e «fora» de si. Vive um dualismo que faz ricochete entre saber e sentimento, entre intelecto e eros. O Eu de Casanova é isto. É duplo. Está dividido. É o Eu dos comportamentos aventureiros, diabólicos, eróticos, transgressivos, o Eu do artista: literatura, música, teatro são parte do seu viver. Esta dualidade é o sinal contemporâneo que me fascinou e depois me sugeriu que encenasse este texto. A dualidade do Homem de hoje que se divide entre papel público e dimensão íntima, que muitas vezes é sufocada, reprimida pela sociedade. Mas chega um momento em que os espaços à nossa volta se restringem, a vida social abandona-nos, e o diálogo entre o teu Eu e o outro é confrontado com uma «tensão singular». Uma luta.

Neste espectáculo, eu quis um Casanova distante da imagem estereotipada que a história nos transmitiu. Quis um Homem mais próximo de nós que fosse intérprete desta viagem-balanç existencial. Embora situado no século de setecentos, na passagem para uma nova época, a de oitocentos, o nosso Casanova poderia viver ainda hoje, na nossa época dominada pela hipocrisia, por falsos mitos, por objectivos puramente materiais, por uma sensibilidade esbatida, por uma cultura epidérmica.
O que há para descobrir neste espectáculo? Uma coisa muito simples: a consciência de que a vida não é defraudada, e com a vida não é defraudado o amor que vive em nós… e que deve ser oferecido e não tomado à força como se fossemos predadores. Os temas que eu quis pôr em evidência são os seguintes: a presença de um só amor, o único na vida de Casanova, o contínuo desejo de fuga para uma liberdade almejada, para não ser “um homem qualquer”, a consciência de que a “viagem de vida” tem uma parábola descendente; de que voltar ao equilíbrio da nossa própria identidade é a melhor maneira para estarmos de bem connosco mesmos. Tudo isto procurei inseri-lo em espaços que são outros tantos “teatrinhos” da nossa existência, das nossas recordações, em que os objectos são pedaços da nossa memória. Um Casanova forte, mas também frágil; um Casanova infantil, mas também diabólico; um Casanova ladrão, mas também generoso; um Casanova actor de si mesmo, e para si mesmo, mas também um ser assustado; em suma, interessava-me apresentar o Homem, entendido como ser humano. Tudo isto acompanhado por uma «outra» viagem de um outro artista, que foi a viagem breve e dolorosa de Mozart, protagonista daquele século de Setecentos que ia morrer.
Mario Mattia Giorgetti

Stefano Massini (Florença, 1975) é um dos mais promissores jovens escritores italianos. Em 2007 recebeu o Prémio Nacional da Crítica para jovens escritores, e em 2005 venceu o maior prémio de dramaturgia italiano: o Pier Vittorio Tondelli. As suas obras estão publicadas na editora Ubulibri, tendo sido traduzidas em português, francês, alemão e checo. Entre as suas peças mais conhecidas encontram-se La gabbia, Donna non rieducabile, L’odore assordante del bianco, e Processo a Dio, produzidas em Itália e no estrangeiro.

Mario Mattia Giorgetti é um dos nomes centrais do teatro italiano há mais de quarenta anos, tendo realizado mais de sessenta encenações para o teatro e contando outras tantas actuações como actor. Diplomado em 1961 pelo Piccolo Teatro de Milão como actor e encenador, trabalhou durante dois anos com Giorgio Strehler e depois com Orazio Costa Giovangigli.
Em 1967 fundou o Centro Attori La Contemporânea, de que é director artístico. Ao longo da sua carreira como encenador dirigiu textos de Samuel Beckett, Ionesco, Camus, Genet, Gianni Hottm, Carlo Terron, Albee e Molière.

Ficha Técnica
Texto de Stefano MASSINI
Encenação Mario Mattia GIORGETTI
Língua Italiano legendado em Português
Produção Centro Attori La Contemporânea

21 a 24 OUTUBRO, 2010 | SALA EXPERIMENTAL | M/12

mostrar mais
Back to top button