A MÃE

de Bertolt Brecht / Máximo Gorki | encenação de Joaquim Benite

6 a 31 JANEIRO, 2010 | SALA PRINCIPAL

Joaquim Benite encena A mãe, de Bertolt Brecht, numa nova produção da Companhia de Teatro de Almada. A peça Die Mutter foi escrita em 1931 – além de Brecht nela colaboraram Slatan Dudow, Hanns Eisler, Elisabeth Hauptmann, Emil Burri -, aos quais se associaria Günther Weisenborn, autor de uma adaptação teatral alemã do romance homónimo do escritor e activista político russo Máximo Gorki, publicado originalmente em 1906. Estreada em Berlim, em 1932, o autor só a dirigirá em 1951, com o Berliner Ensemble, depois de voltar do exílio nos EUA (regressara a Berlim Oriental, em 1949).

A MÃEPelagea Vlassova – assim se chama a «mãe» que protagoniza a peça e que, nesta produção, será interpretada pela actriz Teresa Gafeira – sofre um dos mais cinzelados e conseguidos processos de formação da consciência no primeiro teatro de Brecht. Ultrapassando definitivamente o mero didactismo, o dramaturgo alemão deixa que Vlassova, sinuosa e progressivamente, aprenda a interpretar a luta de seu filho, que acabará por morrer, contra a iniquidade czarista. De dona de casa timorata e apaziguadora, Pelagea Vlassova transformar-se-á em revolucionária activa, porta-estandarte de uma utopia nova, capaz até de identificar a ignorância, o medo e o desânimo como os principais filtros entorpecedores de que se servem os totalitarismos (Brecht pensava no capitalismo selvagem, mas especialmente, no nazismo, que subiria ao poder em 1933).

A MÃENas suas criações mais recentes – basta lembrar Timão de Atenas, espectáculo baseado na peça homónima de Shakespeare, que se estreou no Festival de Teatro Clássico, de Mérida, O presidente, de Thomas Bernhard, ou O doido e a morte, a peça de Raul Brandão e a ópera de Alexandre Delgado -, Joaquim Benite tem-se interessado particularmente por evidenciar a ténue fronteira que separa a tíbia e domesticada resignação pequeno-burguesa do esforço – mesmo que excessivo – de tudo pôr em causa através da Razão. Este persistente elogio da inteligência não manifesta apenas a crença do encenador na capacidade iluminadora da Razão, mas, talvez mais exactamente, a sua decidida afirmação de que, para que a utopia se torne possível, é imperioso pensá-la «emocionalmente». É com este horizonte que volta, então, a ler atentamente um texto de Brecht de que já encenara três cenas em 1980, redescobrindo o subtil apelo de mudança que nele se inscreve, os retratos de gente comum que inopinadamente se transcende, e a apelativa alegria enérgica da sua estrutura musical. – M-PQ


Texto Bertolt Brecht, a partir do romance honónimo de Máximo Gorki | Música Hanns Eisler | Encenação Joaquim Benite | Direcção musical Fernando Fontes | Tradução Yvette K. Centeno e Teresa Balté | Cenografia Jean-Guy Lecat | Figurinos Sónia Benite e Ana Rita Fernandes | Desenho de luz José Carlos Nascimento | Voz e elocução Luís Madureira | Penteados Sano de Perpessac | Assistência de encenação Rodrigo Francisco | Assistência de cenografia Joana Ferrão 

Intérpretes e personagens Teresa Gafeira Pelagea Vlassova, Alberto Quaresma Anton Rybin; Médico, André Albuquerque Pavel Vlassov, filho de Pelagea Vlassova, Carlos Gonçalves Smilgin, um velho operário, Carlos Santos Operário Karpov; O magarefe Vassil Iefimovitch, Celestino Silva Operário; Transeunte; Cozinheiro, Daniel Fialho Operário; Cozinheiro, Laura Barbeiro A sobrinha do campo; Uma criada; Operária, Luzia Paramés Uma mulher; A senhoria, Manuel Mendonça O desempregado Sigorski; Operário; Transeunte, Marco Trindade Um polícia; Operário; Um fura-greves, Marques D’Arede Nikolai Vessovchikov, o professor, Miguel Martins Comissário; Porteiro; Guarda da prisão; Um fura-greves, Paulo Guerreiro Andrei Nachodka; Funcionário, Paulo Matos Ivan Vessovchikov; Operário, Pedro Walter O polícia da fábrica; Iegor Lusckin, um trabalhador rural; Operário, Sofia Correia Masha Chalatova. Teresa Mónica A mulher do magarefe; Uma mulher vestida de preto; A mulher pobre

Intérpretes e instrumentos João Frade acordeão, Cláudio Silva trompete, Rudolfo Freitas percussão

Direcção de montagem Carlos Galvão, Direcção de palco Marco Jardim, Operação de som e luz Guilherme Frazão, Operação de vídeo Lúcia Valdevino, Técnicos de palco João Maionde, Jorge Gomes e Tiago Pereira, Montagem Guilherme Frazão, Marco Jardim, Paulo Horta, António Antunes e António Cipriano, Adereços Paulo Horta e António Antunes, Vídeo Cristina Antunes e Jorge Freire, Fotografias José Frade, Produção Paulo Mendes e João Dias

6 a 31 JANEIRO, 2010 | SALA PRINCIPAL

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