A EXPLOSÃO DA LIBERDADE PELOS OLHOS DO TEATRO
Co-apresentação: Arquivo Ephemera / CTA
Documentação: José Pacheco Pereira e Rita Maltez
Concepção plástica: José Manuel Castanheira
Após o 25 de Abril de 1974 houve uma verdadeira explosão de liberdade que se manifestou de múltiplas formas, das quais o teatro é um exemplo particularmente vivo. Desde o teatro de arte até à ‘revista à portuguesa’ – de cariz mais popular e satírico -, expomos no foyer um conjunto de cartazes e capas dos programas das numerosíssimas peças – com alcane político e social, muitas delas abordando temas da actualidade de então – que os mais diversos grupos levaram à cena na segunda metade da década de 70. O absoluto surto de liberdade que se viveu nesses anos constituiu uma verdadeira ‘anti-censura’, da qual esta exposição dá alguns exemplos.
Abordamos em detalhe o caso concreto do Grupo de Teatro de Campolide, que esteve na origem da Companhia de Teatro de Almada. Este grupo amador tinha estreado o seu primeiro espectáculo – O avançado centro morreu ao amanhecer – a 24 de Abril de 1971, exactamente três anos antes da madrugada do ‘dia inicial inteiro e limpo’. Fulgor e morte de Joaquim Murieta, com texto de Pablo Neruda e encenação de Joaquim Benite, criada já em liberdade, foi a peça com que o ‘Campolide’ se inscreveu na Revolução em curso. Na primeira metade de 1975, deu mais de sessenta representações por todo o País, algumas das quais integradas nas Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA.
Justamente, na Galeria do Teatro dedicamo-nos a olhar para o País com que os soldados do MFA e os artistas que participaram nessas campanhas se depararam, entre 1974 e 1975. No interior de Portugal vivia uma população que, nalguns casos, jamais tinha assistido a qualquer tipo de manifestação artística. Faltavam estradas, infraestruturas e saneamento básico, e assistência médica e veterinária. Nunca se tinha votado em liberdade. A partir de um conjunto de fotos e vídeos dessas campanhas, bem como de alguma documentação militar ‘reservada’ até há pouco tempo, José Manuel Castanheira concebeu a metáfora de uma sala de aula, das muitas escolas de província aonde os militares do MFA foram com os artistas das cidades participar na construção de um País novo.