![Tratamos o moribundo ou desligamos a máquina?](/wp-content/uploads/2017/01/00000630_0001-780x405.jpg)
‘Tratamos o moribundo ou desligamos a máquina?’
A metáfora, utilizada por Pedro Mexia para falar da actual crise da democracia, dominou a parte final da Conversa com o público que teve lugar no passado Sábado e à qual assistiram mais de meia centena de pessoas. O terceiro e último debate subordinado ao tema 'Europa e Democracia no Século XXI' realiza-se já no próximo dia 28, às 18h, e conta com a participação de Rui Tavares e Viriato Soromenho Marques.
Para além de Pedro Mexia, estiveram na mesa Joana Mortágua e João Couvaneiro, membro do Gabinete do Secretário de Estado da Educação. A deputada do Bloco de Esquerda começou por identificar alguns dos factores que explicarão o surgimento dos movimentos de extrema-direita: os conflitos mundiais e locais, as vagas migratórias, a austeridade e os escândalos de corrupção. Referiu-se ainda ao ‘falhanço histórico dos partidos que advogam o liberalismo’ e à ‘aproximação da direita mais tradicional aos partidos xenófobos’, patente, por exemplo, na existência de um ‘Sarkozy I e de um Sarkozy II’. Pedro Mexia trouxe o espectáculo da CTA Noite da liberdade à colação, chamando a atenção para a forma como as questões do foro individual se entrecruzam, na ficção e na realidade, com a esfera colectiva. Embora tenha afirmado estar ‘substancialmente de acordo’ com Joana Mortágua, acabou por desenvolver a sua reflexão inicial aludindo, entre outras coisas, à deterioração da discussão no espaço público e à inutilidade de comparar o momento que vivemos com os anos 30: ‘É uma forma de nos tranquilizarmos com um guião já conhecido’. Criticou ainda a ambivalência de muitas pessoas com responsabilidades político-partidárias na altura de decidirem ‘tratar o moribundo ou desligar a máquina’. Sobre este aspecto, a deputada do Bloco de Esquerda foi peremptória e mostrou-se disposta a ‘matar uma máquina que come a democracia aos bocados e que nos limita a escolha’ – nomeadamente através dos ditames dos mercados e das instituições europeias. João Couvaneiro também se referiu à ‘auto-erosão da esquerda’ como ‘uma das continuidades da História’, fazendo em seguida o elogio da dita Geringonça e congratulando-se com a expressão irrisória da extrema-direita no nosso País. Antes das intervenções do público, houve ainda tempo para falar do papel da educação na formação dos cidadãos.
Ângela Pardelha
in CTA, 23 jan 2017