Colóquio: Pour Dolores

No sábado, 6 de Fevereiro, continuaram as Conversas com o público no foyer do TMJB moderadas por Ângela Pardelha, e desta vez sobre a performance Pour Dolores

Colóquio: Pour DoloresO coreógrafo Josef Nadj e o bailarino Ivan Fatjo, estiveram à conversa com o o crítico de dança Daniel Tércio. Os convidados reflectiram sobre o processo criativo deste espectáculo – que alia a dança, à música, ao teatro, às artes plásticas e à improvisação -, e sobre o papel da dança no panorama artístico contemporâneo. Nadj aludiu à velha máscara de cartão que encontrou numa das suas deambulações por uma feira da ladra e inspirou Pour Dolores, e à volta da qual trabalhou durante dois anos, comparando o uso da máscara ao teatro ancestral e à origem do homem: “A máscara torna-se a base de criação do teatro. Vestir a máscara acaba por ser um sinónimo do processo de acordar, do nascer do homem. É por este motivo que admiro muito o teatro de rua, o teatro da máscara, que em si contém uma memória fortíssima do início de tudo, da arte e da vida” . Já no espectáculo Paysage Inconnu (2014), Josef Nadj utilizou uma máscara em palco. Contúdo o coreógrafo salientou a diferença entre estas duas criações, tendo Pour Dolores exigido de si uma preparação díspar de tudo o que fez anteriormente. Parte dessa originalidade, centra-se na evocação do movimento Fluxus. Nascido nos anos 60, este colectivo de artistas defendia uma unidade entre a arte e a vida. Nas palavras do coreógrafo: “Uma ideia, um gesto, uma acção desencadeadora, um acontecimento… tudo isso foi fundamental para a criação deste espectáculo”. Nesta performance Nadj direccionou a sua atenção para imagens simples que habitam no quotidiano de cada um, e talvez seja por isso que Pour Dolores seja composta por 24 cenas relacionadas entre si: “Primeiro eram 64 cenas mas considerámos que era demais. 24 é um número simbólico: por exemplo o dia tem 24 horas”.

O criador considerou ainda a influência que o actual problema Europeu com a migração poderia ter na sua obra, e o facto de ele próprio ter nascido numa zona de transição, marcada pela guerra, em Kanjiza, na ex-Jugoslávia, actual Sérvia: “Por vezes utilizo a fronteira como metáfora, porque nasci e cresci com essa problemática”. Já Ivan Fatjo, natural da Costa Rica, não sentiu um choque cultural nem com Nadj nem com o trabalho levado a cabo pelos dois: para o bailarino o processo foi algo natural, tendo como base as ideias simples e universais do texto.

Em relação à variedade de disciplinas que os seus espectáculos incluem, Nadj considera que desde a música, ao teatro ou à dança, todos estes elementos são fundamentais à criação. Estranha até o facto de ele próprio ter sido categorizado como coreógrafo no Mundo das artes, mas vê neste facto a necessidade inerente, dos críticos, do público e até do ser humano em si, de defenir e rotular, impossibilitando e negando qualquer ambiguidade. Como ponto de união para todas as disciplinas, que gosta de abordar, o coreógrafo acredita que o corpo está continuamente presente, e é o ponto constante de toda a sua obra. Se se preocupa com a reacção do público? Josef Nadj diz que não, mas que de qualquer forma sempre teve reacções muito positivas que o fizeram continuar: “Sempre optei por fazer um teatro primitivo, e este é um tipo de teatro que funciona em qualquer parte do Mundo. Os meus espectáculos representam uma multidão”.

No próximo sábado, às 18h00, estaremos à conversa com o encenador Rogério de Carvalho e com os actores Carla Gomes, Daniel Martinho, Giovanni Lourenço, Maria Duarte, Matamba Joaquim, Miguel Eloy e Zia Soares, acerca do espectáculo As confissões verdadeiras de um terrorista albino.

Liliana Monteiro
in CTA, 8 fev 2016

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