
A vida de Hemingway está em cena em Almada
Rodrigo Francisco inspirou-se nos contos de Ernest Hemingway para criar “Kilimanjaro”, uma peça onde as palavras ficcionais do escritor contam a vida, os medos e as amarguras do Nobel da Literatura.
A Companhia de Teatro de Almada (CTA) estreia esta sexta-feira, no Teatro Municipal Joaquim Benite, a última criação de 2014. Coproduzido pelo Teatro Nacional D. Maria II, “Kilimanjaro” é uma adaptação de vários contos de Ernest Hemingway, vencedor de um Nobel da Literatura.
Harry (Pedro Lima) é um homem condenado. Com a aproximação da morte, por gangrena, o escritor lamenta não ter escrito aquilo que realmente queria, recrimina-se por ter cedido ao conforto material e por se ter deixado engolir pelo mundo da alta sociedade, de onde veio a sua segunda mulher, Helen (Rita Loureiro). Vai morrer perto do monte mais alto de África, Kilimanjaro, em cenário de caça, na companhia de um escravo e da mulher de quem não gosta.
A estrutura principal da peça baseia-se no livro As Neves de Kilimanjaro, que Hemingway escreveu nos anos 30, quando já era um escritor famoso. Harry funcionou como um alter ego para Hemingway passar em revista as suas frustrações, os seus medos e os seus erros. “Caçamos e matamos animais para não nos matarmos a nós próprios”, escreveu. Em 1961, sete anos depois de ganhar o Nobel da Literatura, suicidou-se.
“Juntei a estrutura principal de As Neves de Kilimanjaro a várias histórias do Hemingyway, dos Contos de Nick Adams a outros contos conhecidos como Colinas como elefantes brancos”, contou ao Observador Rodrigo Francisco, dramaturgo e encenador de “Kilimanjaro”. Foi ele o autor do arranjo do texto, ainda que todas as palavras ditas na peça sejam de Hemingway, à exceção das cartas que são narradas entre cenas e que ajudam a desconstruir a história.
“O que resulta é um curso biográfico sobre Hemingway“, disse Rodrigo Francisco, já que Harry é uma projeção do escritor. E se Pedro Lima dá vida ao Harry do presente, o Harry do passado, da Primeira Guerra Mundial, dos Estados Unidos, de Paris, de Navarro, da Suíça, é interpretado por João Tempera. O elenco conta ainda com Ana Cris, Duarte Guimarães, Elias Nazaré, João Farraia, Luís Vicente e Pedro Walter.
Sara Otto Coelho
in Observador, 4 dez 2014