‘Tratamos o moribundo ou desligamos a máquina?’

A metáfora, utilizada por Pedro Mexia para falar da actual crise da democracia, dominou a parte final da Conversa com o público que teve lugar no passado Sábado e à qual assistiram mais de meia centena de pessoas. O terceiro e último debate subordinado ao tema 'Europa e Democracia no Século XXI' realiza-se já no próximo dia 28, às 18h, e conta com a participação de Rui Tavares e Viriato Soromenho Marques.

Para além de Pedro Mexia, estiveram na mesa Joana Mortágua e João Couvaneiro, membro do Gabinete do Secretário de Estado da Educação. A deputada do Bloco de Esquerda começou por identificar alguns dos factores que explicarão o surgimento dos movimentos de extrema-direita: os conflitos mundiais e locais, as vagas migratórias, a austeridade e os escândalos de corrupção. Referiu-se ainda ao ‘falhanço histórico dos partidos que advogam o liberalismo’ e à ‘aproximação da direita mais tradicional aos partidos xenófobos’, patente, por exemplo, na existência de um ‘Sarkozy I e de um Sarkozy II’. Pedro Mexia trouxe o espectáculo da CTA Noite da liberdade à colação, chamando a atenção para a forma como as questões do foro individual se entrecruzam, na ficção e na realidade, com a esfera colectiva. Embora tenha afirmado estar ‘substancialmente de acordo’ com Joana Mortágua, acabou por desenvolver a sua reflexão inicial aludindo, entre outras coisas, à deterioração da discussão no espaço público e à inutilidade de comparar o momento que vivemos com os anos 30: ‘É uma forma de nos tranquilizarmos com um guião já conhecido’. Criticou ainda a ambivalência de muitas pessoas com responsabilidades político-partidárias na altura de decidirem ‘tratar o moribundo ou desligar a máquina’. Sobre este aspecto, a deputada do Bloco de Esquerda foi peremptória e mostrou-se disposta a ‘matar uma máquina que come a democracia aos bocados e que nos limita a escolha’ – nomeadamente através dos ditames dos mercados e das instituições europeias. João Couvaneiro também se referiu à ‘auto-erosão da esquerda’ como ‘uma das continuidades da História’, fazendo em seguida o elogio da dita Geringonça e congratulando-se com a expressão irrisória da extrema-direita no nosso País. Antes das intervenções do público, houve ainda tempo para falar do papel da educação na formação dos cidadãos.

Ângela Pardelha
in CTA, 23 jan 2017

mostrar mais
Back to top button