
“A cooperação não é uma necessidade: é uma obrigação”
Foi esta a principal achega de Viriato Soromenho Marques à parábola com que Rui Tavares abriu o debate do último Sábado, dia 28 de Janeiro, sobre o fogo que vai lavrando no bairro sem que os vizinhos (isto é, os países europeus) sejam capazes de cooperar para o extinguir.
Para Rui Tavares, a luta do momento consiste em contrariar uma ideia que, em seu entender, aproxima perigosamente o Estado Islâmico e o presidente Donald Trump: a tentativa de “desidratar a nossa personalidade”, rejeitando o pluralismo e a existência de “cidadãos do Mundo” e afirmando apenas uma identidade: a América ou o Islão. Neste sentido, o ex-eurodeputado considera urgente “salvar o projecto europeu agora” e não sufragar “o caminho do egoísmo”. Discutiram-se formas de o fazer. Na opinião de Viriato Soromenho Marques, embora o terrorismo e a crise dos refugiados sejam problemas graves, “o ponto de Arquimedes está na União Económica e Monetária”: é preciso “pôr o euro a funcionar, ter um orçamento, ter uma Constituição Europeia, ter solidariedade” e, claro, dar resposta aos problemas daqueles que já não se revêem na democracia representativa, nomeadamente pelo facto de “o poder estar concentrado em estruturas que não são consultadas por nós”, como é o caso do BCE. A “indigência intelectual” de alguns representantes (patente, por exemplo, no comentário de Angela Merkel sobre o número de horas de trabalho nos países do Sul da Europa ou na ignorância de Trump relativamente às consequências das alterações climáticas) também foi apontada como uma causa para a crise actual. Apesar de tudo, o debate terminou com uma nota de esperança, com o professor a reforçar, na sequência da intervenção de um espectador, a sua confiança na sociedade civil e no sistema constitucional norte-americano.
Ângela Pardelha
in CTA, 30 jan 2017