FENDA

Texto e encenação de Rodrigo Francisco

COMPANHIA DE TEATRO DE ALMADA

Fenda conta-nos a história de Catarina, uma mulher de sucesso que aparenta ter uma força a toda a prova. Porém, uma fragilidade emocional revela as pontas soltas afectivas dessa mesma força, minada pela culpa e pelo sacrifício de quem subiu na vida a pulso para se lançar no mundo da informação televisiva: um mundo em que a verdade se enreda no que não pode ser noticiado e em que as relações de poder e a competição entre as pessoas prevalecem de modo particularmente violento. Escrito como um thriller psicológico, trata-se de um retrato de uma geração cheia de carências ocultas de vária natureza: pessoas cujas vidas têm por única forma e conteúdo o trabalho que fazem e os troféus que os salários que ganham permitem adquirir.

Em pano de fundo, várias outras problemáticas societais ganham visibilidade, entre as quais as remanescências do colonialismo e os negócios que ainda prosperam na realidade pós-colonial recente e a conformação a uma cultura do consumo que gera uma espécie de falsa classe social única: a dos burgueses, com mais ou menos liquidez (por vezes com muito pouca mesmo), para quem pessoas como Catarina (ou, melhor dizendo, a sua representação mediática) são um modelo.

Rodrigo Francisco (n. 1981) fez a sua formação teatral com Joaquim Benite, de quem foi assistente de encenação. Estreou-se na escrita para teatro com Quarto minguante (2007), que conheceria uma versão televisiva e duas traduções. Escreveu ainda Tuning (2010), peça nomeada pela SPA para o Prémio de Melhor Texto de Teatro Português estreado nesse ano. Também encenador, é desde 2013 director artístico da Companhia de Teatro de Almada e do Festival de Almada.


A dor é como uma fenda que não pode fechar-se.
Podemos tapá-la com uma data de coisas, fingir que ela não está lá – mas está.
fala de Catarina


15 MARÇO a 07 ABRIL, 2019 | SALA PRINCIPAL

qui a Sáb às 21h00
qua e dom às 16h00

Duração: 01h30 | M/14

Intérpretes Adriana Melo, Carlos Fartura, Diogo Dória, João Farraia, João Tempera, Maria João Abreu, Mina Andala, Pedro Walter e Filipe Couto (estagiário)
Cenografia Jean-Guy Lecat
Figurinos José António Tenente
Luz Guilherme Frazão
Som Miguel Laureano
Vídeo Cristina Antunes

Assistente de figurinos Susana Marques Mira
Montagem Abel Duarte, Daniel Ladeira, Diogo Fidalgo, Diogo Silva, Ivan Teixeira, João Gouveia, Miguel Laureano, Paulo Horta, Pablo Juan, Ricardo Abrantes, Vitor Aloisio

Agradecimentos
ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve
Manuel Francisco Lopes e Paulo Figueiredo,
RTP – Núcleo Museológico e Apoio ao SP
Nuno Dias Ferreira e Rodrigo Delgado – Videocine
Sérgio Milhano – Ponto Zurca


«[ … ] Esta peça desenvolve uma história carregada de elementos que fazem parte da configuração da nossa época: mulheres autónomas e com grande sucesso profissional, homens jovens, instáveis e sem rumo, relações amorosas desinibidas entre mulheres, relações familiares dissolvidas ou à beira da quebra, conflitos geracionais, um ambiente profissional do jornalismo e da televisão onde há uma hegemonia dos códigos da representação. O cruzamento da vida profissional da protagonista [que a obriga a uma grande exposição pública] com a vida privada, revela grandes falhas e uma descontinuidade dolorosa, problemática, entre o mundo das imagens e o mundo real. A fenda de que fala o título, tendo embora uma significação mais ampla, reside também aqui. Há uma situação epocal, uma configu ração do nosso tempo, que se desenha nos diálogos das personagens: o tempo[ … ] do t riunfo do ” mediático”. [ … ]»

António Guerreiro, in «Entre as palavras e as coisas»
[texto integral publicado no livro Fenda, colecção Teatro]


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