Almada | O Futuro já era

Uma nova criação da Companhia de Teatro de Almada, com encenação de Peter Kleinert e música de Chullage

Sofia Quintas in Almada online 01 Março 2024 | notícia online

“O futuro já era” é um texto de Sibylle Berg, com encenação do alemão Peter Kleinert, que regressa a Almada depois de ter encenado em 2018 “A boa alma de Sé-Chuão” e, “Noite de Reis”, em 2022. A música está a cargo do rapper almadense Chullage.

“O milénio começou pessimamente. Não houve nenhum bug informático. Foi na altura em que o Facebook estava em grande. Com uma rapidez incrível, as pessoas ficaram viciadas nos likes de gente que não conheciam. Os jovens ficaram viciados na excitação que sentiam com aquela mistura de bullying, violência e sexo. Era o tempo em que à crueldade real das pessoas se veio ainda juntar a crueldade virtual. Era o tempo antes de alguma coisa.”, pode ler-se no texto de apresentação da peça, que se situa em 2030.

“O futuro já era” é um manifesto de fúria, fuga e revolta individual. Na peça é contada a história de quatro jovens criados em agregados familiares instáveis, numa das regiões mais degradadas de Inglaterra: o Noroeste desindustrializado. Rochdale é uma cidade esquecida pelo poder político, sem esperança, em que a pobreza, a violência e o abuso fazem parte da vida quotidiana, um lugar onde as crianças têm de crescer demasiado depressa, na completa ausência de futuro. Os únicos aspectos comuns a Don (uma rebelde obcecada pelas artes marciais), Peter (um rapaz polaco traumatizado), Karen (uma rapariga albina) e Hannah (uma órfã de Liverpool) são o ódio à realidade em que vivem, o amor pelo ‘GRIME’, o estilo musical que substituiu o ‘punk’ como música dos revoltados e marginalizados e, a determinação em vingarem-se dos responsáveis pela sua miséria. A sua sede de vingança leva-os a Londres, onde se deparam com grupos de conservadores degenerados, teóricos da conspiração, programadores vacilantes entre a megalomania e a impotência, agentes secretos cínicos, correctores da bolsa chineses, algoritmos que desenvolveram uma vida própria e, com vários perdedores que passam os dias a reviver o seu próprio passado patético, através da realidade virtual. O que começara como um grupo em busca de sucesso, transforma-se numa família improvisada, quando os quatro jovens tentam, debalde, criar um lar para si próprios numa fábrica abandonada na periferia da cidade.

Para Peter Kleinert, esta é uma realidade muito próxima do presente de “de um caminho que sabemos onde vai dar, a um um futuro que temos de combater”, com uma mensagem para as novas gerações, para que se consciencializem e ponham em marcha ideias que restabeleçam a sociedade, porque este é um “futuro que é, na verdade, o presente”. “Quero que o público tenha 90 minutos de diversão política”, assinala.

Kleinert pediu à CTA um rapper com quem pudesse trabalhar e, em resposta foi-lhe apresentado Chullage. Kleinert foi assistir a um concerto seu e gostou do que viu e ouviu, sobretudo da sua atitude política.

Chullage por ser de Almada, já era familiar com a linguagem do grime e ambientes de periferia urbana de indústria pesada, agora desindustrializada, reescreveu os rapps da peça. O rapper considera que o texto tem “tudo a ver com Portugal, onde o tecido económico vai mudando e há uma vontade de ascensão da extrema direita. Faz sentido aqui e agora.” Defende ainda que “a maioria dos jovens hoje em dia têm uma ideia que vão ser os maiores, vão ser milionários em duas semanas, há sempre uma resposta na net, quem não pode é porque não conseguiu, quem não conseguiu são loosers. É importante perceberem que essa proposta pode ser altamente falaciosa.”

“O futuro já era” baseia-se no romance “GRM – Brainfuck” de Sibylle Berg, uma das mais renomadas escritoras suíças da actualidade, que venceu o Prémio para Melhor Livro Suíço em 2019 e o Grand Prix de Literature em 2020. Pelo conjunto da sua obra, Berg viu ser-lhe atribuído também em 2020 o Prémio Bertolt Brecht.

A peça estará em cena de 1 a 24 de Março, de Quinta a Sábado, às 21h e Quartas e Domingos, às 16h, na Sala Experimental do Teatro Municipal Joaquim Benite . Enquanto o espectáculo estiver em cena, haverá como “Conversas com o Público”, nos dias 2, 9, 16 e 23 de Março às 18h, no foyer do teatro, com coordenação da escritora e encenadora Patrícia Portela.

©Rui Carlos Mateus / CTA / Um futuro distópico, muito próximo do presente em que vivemos.
Ficha técnica e artística

O Futuro já era
Uma criação da Companhia de Teatro de Almada
Texto: Sibylle Berg
Encenação: Peter Kleinert
Interpretação: Cecília Borges, Chullage, Diana Linguiça, Diogo Bach, Erica Rodrigues, Inês Saramago e Jacinta Correia
Música: Chullage
Tradução: Bruno C. Duarte
Cenografia: Céline Demars
Figurinos: Ana Paula Rocha
Desenho de luz: Guilherme Frazão
Dramaturgia: Paulo Rêgo
Assistência de encenação: Nicole Alves
Assistente de figurinos: Ricardo Varela
Fotografia: Rui Carlos Mateus
Duração: 1h30 aprox.
Classificação: M/14

Preço: entre 6,50€ e 13€ (Clube de Amigos: entrada livre)

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